«Como se tornou do conhecimento público recentemente, e para evitar mais especulações sobre este assunto, confirmo que foi diagnosticado à minha mulher, Laura Ferreira, um problema do foro oncológico que está a ser devidamente acompanhado», confirmou numa nota enviada à Lusa. Seguiu-se um período de tratamentos até a tal viagem em que Laura Ferreira voltou à vida pública, feita em julho de 2015 e, em coerência com aquela que tinha sido até à data a sua forma de estar, a fisioterapeuta não falou sobre o seu estado de saúde. Só o faria mais tarde nesse ano, após a reviravolta nas legislativas de 2015 ter afastado Passos Coelho. Depois de comentar que era bom ter o marido «de volta», Laura Ferreira falou, com o seu jeito despojado de berloques, do seu estado de saúde. «Tenho muita esperança que sim, que esteja melhor, e penso que isso é fundamental. Mantermos a positividade e rodearmo-nos de pessoas que gostam de nós, a família e os amigos são fundamentais», dizia. «Aproveito para deixar um voto de esperança a todas as pessoas que estejam a passar por momentos mais complicados. Desistir nunca é solução. Devemos apoiar-nos sempre em quem nos ama».
O país acompanhou, com a distância pedida, a doença de Laura Ferreira, que acabou por lhe levar a vida. Morreu esta semana, na madrugada de segunda para terça-feira, no Instituto Português de Oncologia (IPO), onde se encontrava internada. Tinha 54 anos.
Laura Maria Garcês Ferreira nasceu na Guiné-Bissau, em 1965, mas durante a sua juventude viveu também no Mindelo, S. Vicente, em Cabo Verde. A família mudou-se para Coimbra em 1978, e depois para o Cacém. Chegou a entrar em Medicina mas acabou por tirar o curso de Fisioterapia e já trabalhava no Centro de Educação para o Cidadão Deficiente, em Mira-Sintra – posto que manteve mesmo depois da eleição do marido –, quando conheceu Pedro Passos Coelho.
Casaram em 2004, e como foi amplamente falado nos jornais, viviam em Massamá. Tiveram uma filha, Júlia, que nasceu quando Laura tinha 42 anos e se veio juntar a Teresa, do seu primeiro casamento (Passos Coelho já tinha também duas filhas, Joana e Catarina, nascidas da união anterior do antigo primeiro-ministro a Fátima Padinha).
«A nossa vida nunca foi fácil, tivemos sempre de trabalhar muito, porque as coisas que temos foram compradas a custo. Não temos nada que nos fosse dado de mão beijada. Tudo o que temos é nosso, mas foi conquistado com muita luta. É também por isso que somos tão unidos», dizia a própria na biografia autorizada do marido, Somos o que Escolhemos Ser, publicada em 2015. O livro, assinado pela então assessora do grupo parlamentar do PSD, Sofia Aureliano, dedica um capítulo inteiro a Laura, que ali contava que, independentemente de uma agenda sem brechas, o marido se desvelava em cuidados e fazia questão de a acompanhar nos tratamentos.
Foi uma das poucas alturas em que falou sem rodeios, ou, pelo menos, com menos contenção do que tinha demonstrado. É que mesmo epois das legislativas de junho 2011, nas quais Pedro Passos Coelho se tornou primeiro-ministro, Laura Ferreira escolheu sempre a discrição e foi selecionando a dedo os momentos em que acompanhava o marido, além de além de privilegiar os eventos solidários – fruto também do seu percurso profissional, visto que trabalhava numa cooperativa social sem fins lucrativos. E assim se manteve até 2015. Após as eleições desse ano, Passos Coelho manteve-se como deputado e deixou a vida política em 2018 para abraçar a docência. No ano anterior, a situação clínica de Laura Ferreira tinha-se complicado e, desde então, o quadro foi piorando.
Marcelo deixou uma nota na página da Presidência da República endereçando a Pedro Passos Coelho «as mais sentidas e amigas condolências neste momento de enorme perda da sua mulher, alguém que deixou um traço de humanidade e serviço comunitário na sociedade portuguesa». Já António Costa recorreu ao Twitter para prestar a sua homenagem. «Todo o país acompanhou, solidário, o combate que Laura Ferreira travou contra a doença e a sua enorme demonstração de perseverança e resiliência», escreveu o primeiro-ministro, deixando uma nota direta para antigo líder do PSD: «Neste momento de dor, em que se despede da sua mulher, quero expressar a Pedro Passos Coelho as minhas sinceras condolências». Já a direção do PSD emitiu uma nota, lembrando que Laura era uma «figura muito acarinhada por toda a família social-democrata», e Rui Rio reagiu também no Twitter, deixando ao seu antecessor um «abraço solidário» e a sua «homenagem pela forma dedicada, solidária e amiga como sempre» acompanhou a mulher. Já o eurodeputado despediu-se também nas redes sociais, considerando que Laura Ferreira «primou, na sociedade, pela empatia humana. E pela mais presente das discrições».
As cerimónias fúnebres realizaram-se na passada quinta-feira, no Centro Funerário de Cascais.