Nova crise? Previsões económicas revistas em baixa

A OCDE reviu em baixa aumento do PIB mundial para 2,4%, mas admite rever para 1,5% se o surto for ‘mais duradouro e intensivo’. A Moody’s está ainda mais pessimista.

Os sinais de alarme em relação a uma nova crise económica são cada vez maiores. Depois de a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) ter revisto em baixa o crescimento económico mundial este ano em 0,5 pontos percentuais, para 2,4% – face aos 2,9% previstos há quatro meses –, agora foi a vez da Moody’s. «A disseminação global de coronavírus está a resultar num choque simultâneo na oferta e na procura. Esperamos que estes choques desacelerem materialmente a atividade económica, particularmente na primeira metade do ano», diz a agência de notação.

A agência reviu em baixa a projeção para o conjunto dos países do G 20 e espera agora que cresça 2,1% em 2020 (menos 0,3 pontos percentuais que na estimativa anterior). Para os EUA prevê que o produto interno bruto (PIB) expanda 1,5% (menos 0,2 p.p.), para a Zona Euro que cresça 0,7% (menos 0,5 p.p) e para a China 4,8% (menos 0,4 p.p.). Esta é a segunda revisão em baixa das estimativas da Moody’s em menos de um mês.

«Quanto mais tempo o surto afetar a atividade económica maiores serão as dinâmicas de recessão», refere, acrescentando que «a extensão completa dos custos económicos não será clara durante algum tempo». Admite, no entanto, que «o receio de contágio irá penalizar o consumo e a atividade empresarial».

Esse alerta já tinha sido dado pela OCDE ao afirmar que um surto «mais duradouro e intensivo, alargado às regiões Ásia-Pacífico, Europa e América do Norte, enfraqueceria as perspetivas consideravelmente». E, neste caso, «o crescimento mundial poderia descer para 1,5% em 2020, metade do número projetado antes do surto do vírus».

Sendo a China um dos países mais afetados, a organização é mais pessimista ao rever em baixa o seu crescimento em 0,8%, para 4,9%. Também a Europa não escapa ilesa, com a OCDE a rever em baixa o crescimento do produto interno bruto (PIB) na zona euro para apenas 0,8%, abaixo dos 1,1% que previa na última revisão, muito à custa das desacelerações da Alemanha (0,1 p.p. para 0,3%), França (0,3 p.p. para 0,9 p.p.) e Itália (0,4 p.p. para uma estagnação da atividade económica: 0%).

Também o crescimento económico do Reino Unido foi revisto em baixa em 0,2 pontos percentuais, para 0,8%; o dos Estados Unidos em 0,1 p.p., para 1,9%; o do Japão em 0,4 p.p., para 0,2%; e o da Coreia do Sul, um dos países mais afetados pelo Covid-19, em 0,3 pontos percentuais para 2,0%.

Face a esse cenário, a organização presidida por Ángel Gurría defende que sejam criados «estímulos à política macroeconómica nas economias mais expostas», uma vez que, ajudaria a «restaurar a confiança, à medida que os efeitos do surto do vírus no lado da oferta se desvanecem».

Aparentemente mais otimista parece ser o presidente do Eurogrupo, ao afirmar que «este surto está a ter um impacto negativo na economia global» e que «a extensão e a duração do problema ainda é incerto nesta altura».

O também ministro das Finanças português prometeu que a situação está a ser monitorizada de perto. «Asseguro que nenhum esforço será poupado para conter a doença, para providenciar serviços de saúde e sistemas de proteção para os civis, de forma a apoiar a população das áreas mais afetadas e para salvaguardar as nossas economias de mais danos», disse Centeno, afirmando que no caso português «ainda é cedo para fazer as contas».

O ex-ministro das Finanças e diretor do Departamento de Assuntos Orçamentais do Fundo Monetário Internacional (FMI), Vítor Gaspar, também defendeu a criação de um plano de negócios de continuidade, com o objetivo de atribuir mais benefícios fiscais para a população e para as empresas, o fornecimento de serviços básicos às pessoas que precisem de ficar de quarentena e às organizações que sofram impactos do surto.

Numa publicação no blog do FMI, Vítor Gaspar apela que os Governos reforcem a despesa com a saúde e recorda que o fundo tem 50 mil milhões de dólares disponíveis para apoiar países em situação de emergência.

 

OMT revê recessão no setor

Os mecanismos de apoio não vão, porém, conseguir travar um acentuada quebra em setores como o turismo e a aviação. A Organização Mundial do Turismo (OMT) reviu em baixa as estimativas para o turismo internacional este ano apontando para recuos entre 1% e 3% este ano e perdas que podem oscilar entre os 27 e os 45 mil milhões de euros. Antes do surto, a OMT previa um crescimento do setor entre os 3% e os 4% este ano.

Numa primeira análise, a entidade aponta «para que a Ásia e Pacífico sejam as regiões mais afetadas, com uma queda estimada nas chegadas entre 9% e 12%», na sequência do cancelamento de viagens e reservas de turistas chineses.

A organização considera «prematuro» avançar com estimativas para outras regiões, tendo em conta a situação atual, embora seja já possível antecipar significativas perdas em países como Itália – nomeadamente em regiões com grande tradição turística como o Véneto, Lombardia e Friul-Veneza Júlia.

Como forma de dar resposta aos desafios que se avizinham, a entidade pediu aos governos e organizações internacionais que incluam o setor como uma «prioridade nos planos e ações de recuperação» dos danos causados pelo novo coronavírus.

A organização destacou também que o turismo está ser confrontado com os desafios colocados pelo surto de Covid-19, tendo em conta que é uma atividade de elevado contacto pessoal.

Para a OMT, o turismo terá um papel «chave» na recuperação económica futura e deve ser uma «prioridade» nos planos de governos e organizações internacionais.

A entidade pede assim apoio político e económico para medidas de recuperação, sendo que, de acordo com o secretário-geral da OMT, Zurab Pololikashvili, «o setor é composto, em cerca de 80%, por pequenas e médias empresas, que estão particularmente expostas» aos problemas que envolvem o turismo.

por João Amaral Santos e Sónia Peres Pinto