A troca de acusações entre José Miguel Júdice e Ana Gomes já dura há algumas semanas. A socialista e o advogado têm espaços de comentários no mesmo canal, a SIC, mas o ambiente está cada vez mais crispado. Júdice já classificou a a socialista como «uma pessoa mal educada» e Ana Gomes atirou sobre o o ex-bastonário da Ordem dos Advogados que este defendiu «a ditadura» e gosta de «banqueiros e corruptos».
A troca azeda de palavras começou com um comentário de José Miguel Júdice sobre as eleições presidenciais depois de Francisco Assis ter lançado o nome da antiga eurodeputada e sua colega de bancada socialista.
Na última terça-feira de janeiro, o advogado descreveu Ana Gomes como «radical, populista, exagerada e próxima da extrema-esquerda». Quinzes dias depois, já no final do comentário, prometeu que no próximo programa iria falar dos «irmãos siameses» André Ventura e Ana Gomes. E cumpriu. «Eles vão ficar muito ofendidos, mas se eles se ofendem com isso eu diria que são farinha do mesmo saco. Ambos são populistas e muito demagogos», disse José Miguel Júdice logo a abrir o espaço de opinião semanal naquela estação televisiva.
Durante quase 20 minutos, o antigo dirigente do PSD falou de Ana Gomes e de André Ventura. «São ambos do contra. Contra tudo e contra todos», disse. Pelo meio, o comentador garantiu que António Costa «ainda gosta menos da Ana do que do André.».
A resposta surgiu no domingo seguinte. Ana Gomes aproveitou o seu espaço de comentário no mesmo canal para responder e lançar outras acusações. «Ele sabe que eu sei muita coisa que os portugueses vão sabendo sobre ele próprio», disse a antiga eurodeputada. E também encontrou um irmão siamês para o advogado. «O Dr. Júdice tem um irmão siamês que é o dr. Proença de Carvalho. Eles gostam de banqueiros e de corruptos, africanos ou não. Servem-nos. Por isso reagem quando alguém fala contra a corrupção como eu falo. Não temos nada em comum», disse a socialista, depois de Júdice ter dito que ela «não gosta de clubes de futebol, não gosta de banqueiros» e «não gosta de angolanos ricos».
Salazar e Mao Tsé-Tung
A guerra entre os comentadores chegou aos anos 70. Primeiro foi Ana Gomes a garantir que o ex-militante do PSD defendia a ditadura e o império colonial. Dois dias depois foi a vez de Júdice responder à «senhora que trabalha aqui nesta televisão». O também antigo bastonário da Ordem dos Advogados garantiu que ninguém encontrará da parte dele «uma palavra de apoio a Salazar ou a Marcelo Caetano» e lembrou a ligação de Ana Gomes ao MRPP. «Ela era maoísta, filiada no MRPP. O Mao Tsé-Tung matou ou foi responsável pela morte de mais de dois milhões e meio de pessoas por razões políticas. Quem tem telhados de vidro não anda a atirar pedras aos outros».
Pelo meio, José Miguel Júdice acusou a socialista de ser «mal educada» e comparou-a a Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos da América, nas «mentiras sistemáticas» e «nas fake news». Depois de colar a socialista ao populismo, o advogado alertou que a ex-eurodeputada é «uma mulher perigosa para a democracia». E voltou à comparação com o líder do Chega para garantir que «o populismo dela é mais perigoso».
Ana Gomes já tinha antecipado algumas críticas (feitas por Júdice) e garantiu que era radical, nos tempos em que militava no MRPP, mas esteve sempre «contra a ditadura e a guerra colonial».
Numa entrevista recente ao jornal SOL a ex-eurodeputada socialista também já tinha abordado os comentários de José Miguel Júdice. Questionada sobre se se considera uma mulher radical, populista, exagerada e próxima da extrema esquerda, Ana Gomes respondeu que críticas « vindo desse senhor[ José Miguel Júdice], é um elogio. Esse senhor, que andou a ganhar milhões à conta da senhora dona Isabel dos Santos…». E assegurou, mais à frente, na referida entrevista que era uma mulher de esquerda: «Da extrema esquerda não sou, mas da esquerda sou. E, para mim, sim, faz toda a diferença ser de esquerda. Não sou e não tenho nada a ver com a direita, aliás, quem fala bem da extrema direita é o Dr.. José Miguel Júdice, que vem da extrema direita». A discussão já chegou às redes sociais, designadamente, ao Twitter.