A minha própria experiência política e institucional indica-me que quando as instâncias de tomada de decisões ‘entopem’, algum ‘golpe de Estado’ ou reestruturação dramática vai ser necessário para ultrapassar o ‘impasse’. Antes dessa fase, porém, o que acontece, quando tais instâncias de decisão ‘começam a entupir’ e a deixar mais assuntos ‘pendentes’ do que resolvidos, tenta-se sempre remover as divergências de fundo, estruturais, através de processos de ‘reflexão conjunta’, ‘seminários’ e ‘conferências’, na esperança de encontrar ‘uma nova plataforma comum’ (normalmente conjuntural ou ‘faz de conta’) ou, então, o esvaziamento dos apoios do outro contendor e a sua consequente ‘rendição’ e derrota. A UE encontra-se nesta fase, de progressivo ‘entupimento’ dos seus centros de decisão e de ‘fuga para a frente’ através de ‘Conferências’ que antecipam mudanças radicais de rumo.
De um mero ‘mercado comum’ do carvão e do aço integrado por meia dúzia de países, veio a resultar, em diversas fases, sugeridas e apoiadas pelos EUA, com finalidades geoestratégicas (evitar revoluções sociais na Europa Ocidental e, mais tarde, ‘engolir’ os países do leste europeu), uma vasta e complexa ‘União’ de 27 países onde os interesses próprios e conjunturais se sobrepuseram sempre a qualquer suposta (na realidade inexistente) ideia ou projeto comum.
Aos EUA já não interessa a UE para nada: não querem uma moeda concorrente ao dólar a ocupar uma significativa fatia do mercado; não querem uma UE com uma posição autónoma e prestigiada no mundo como fator de paz e de equilíbrio global.
A primeira grande operação contra a UE foi o desmantelamento da Jugoslávia e a criação do estado fantoche do Kosovo, o ovo da serpente pronto a eclodir (às ordens dos EUA) em qualquer momento na ‘barriga da Europa’ (os Balcãs); a segunda grande ofensiva dos EUA contra a UE e o euro foi a chamada ‘crise financeira de 2008’, a qual não foi mais do que uma premeditada e bem planeada operação para ‘deitar abaixo’ o sistema financeiro da Europa continental, centrado na Alemanha e na França, criando uma vulnerabilidade estrutural da UE por longo tempo (nós próprios, em Portugal, bem pagamos para manter a ‘banca nacional a flutuar’!); a terceira grande operação foi o ‘caso Ucrânia’, peça fundamental da política de guerra total com a Rússia; acresce ainda a ‘reocupação militar’ da ‘Europa’ pelos EUA mediante sucessivos e provocatórios ‘exercícios’ nas fronteiras da Rússia e o desmantelamento do sistema de segurança nuclear.
Aos EUA só interessam alguns dos países europeus, para efeitos de uma confrontação política, económica e militar com a Rússia. Neste sentido, interessam-lhe os nórdicos, os bálticos e a Polónia (frente Norte e do Báltico), e o pacote fronteiriço com a Rússia a Oeste e Mar Negro (Ucrânia, Bulgária, Roménia e Turquia). A Alemanha, a França e outros não são confiáveis para essa política de confrontação e subsequente destruição física desses países.
A saída do Reino Unido da UE foi um importante passo nessa desmontagem, pelos EUA, do ‘projeto europeu’. Neste contexto, a UE tal como tem sido conhecida será, no futuro, cada vez mais, um morto-vivo ligado à máquina dos paliativos. É pena…
E Portugal? Dirigido por uma ‘elite’ política entreguista e subserviente ao estrangeiro e uma elite económica que só aprendeu a ‘viver de rendas’ (pimenta, ouro, escravos e, mais recentemente, de ‘fundos’) só lhe restará vegetar (sem mais acesso a colónias) entre as Berlengas, os EUA e a Inglaterra, como fez nos últimos 400 anos.
Pobres de nós se não puxarmos pelos restos de Patriotismo, de Amor ao Trabalho, de Curiosidade Científica e de Desenrascanço que tanto nos caracterizaram historicamente!