O primeiro-ministro foi ao Parlamento dizer que até 15 de abril, no programa de estabilidade, serão publicadas novas perspetivas sobre o crescimento económico deste ano, que tomarão em consideração o impacto do coronavírus.
Mas o primeiro-ministro poderia já começar a fazer contas e a preparar os portugueses para o que aí vem. É certo que ele evita sempre dar as más notícias e, portanto, irá deixar para outros o anúncio da perspetiva de recessão que ensombra o ano e os seus impactos, provavelmente duradouros. O próprio ministro das Finanças provavelmente comunicará a saída do Governo, antes de anunciar os novos cenários, consciente que não tem margem orçamental para manter o nível de atividade na economia – os 100 milhões anunciados são provavelmente menos de 10% das necessidades adicionais de tesouraria das empresas – e que a eventual redução da taxa de juros do Euro (seguindo a descida nos EUA) não tem nenhum efeito no crédito privado em Portugal.
E o pior de tudo é que as estratégias europeia e portuguesa de prevenção desta nova infeção respiratória asiática, apenas vai prejudicar ainda mais o crescimento deste ano em Portugal.
Embora ninguém o diga, os estudos que estão a ser feitos apontam para níveis de contágio até 25% da população europeia. Trata-se de uma gripe sazonal que acresce às gripes que já existem e que afetam sobretudo os mais idosos. Toda a estratégia de prevenção visa basicamente criar condições para que os Serviços de Saúde na Europa consigam dar resposta, sem entrarem em rutura pela incidência adicional dos utentes infetados como o coronavírus. E, como a maior intensidade de utilização dos serviços nacionais de Saúde é no inverno, o que se está a fazer (a par do alarmismo da comunicação social e do oportunismo de ditadores e populistas) é fazer deslizar para o verão e o outono os picos da crise do coronavírus, para não sobrecarregar agora os hospitais já saturados pelas circunstancias sempre difíceis do inverno.
Esta estratégia europeia – com cancelamento de grandes eventos e encerramentos de universidades e escolas – faz com que os picos virais do Covid-19 se venham a situar mais tarde no ano, em dois períodos: em junho e julho e depois, em setembro e outubro.
O FMI já veio anunciar a previsão de um crescimento económico mundial este ano inferior a 2019. O efeito do Covid-19 pode chegar a 0,5% do PIB mundial atirando a previsão do crescimento para níveis abaixo de 3%, tendo especial incidência nas indústrias mais dependentes das cadeias de abastecimento internacionais, mas de um modo especial atinge a indústria turística no mundo inteiro, dos cruzeiros ao alojamento local.
Dado o peso do turismo, viagens e eventos no nosso PIB (cerca de 8%) e nas nossas exportações (cerca de 17,5%) e o peso da indústria automóvel – as duas mais importantes componentes das nossas exportações de bens e serviços – Portugal é uma das economias mais vulneráveis, podendo o impacto ficar entre os 0,8 e o 1% do PIB. Ou seja, o crescimento de 1,9% previsto para 2020 por Mário Centeno, só por efeito do vírus, já estaria comprometido nesta altura. Foi isso mesmo que António Costa admitiu no debate parlamentar.
Só que a estratégia pública europeia de fazer empurrar para o verão o ponto mais crítico da crise do coronavírus (para não coincidir com o inverno, quando os Serviços de Saúde estão mais congestionados) vai afetar substancialmente a nossa maior exportação de verão, ou seja, o nosso turismo. Isto quer dizer que, por ação dos governos europeus, Portugal vai sofrer muito mais que outros países.
Em meu entender – e considerando as expectativas dos agentes turísticos, sobre o atraso nas reservas e os cancelamentos que se estão a verificar nesta Páscoa, mas também para o verão – poderemos ter, este ano, uma quebra no turismo da ordem dos 25%, ou seja, o equivalente a 2% do PIB – mais de 4 mil milhões de euros de quebra nas receitas previstas. Estes valores não só comprometem os investimentos feitos nos últimos anos na área do turismo, como destroem em definitivo a saúde financeira da maioria das empresas nacionais do setor e colocam em causa o equilíbrio orçamental. E a nível macroeconómico, este cenário significa que que vamos estar em recessão já este ano e que perderemos pelo menos 40 mil postos de trabalho, só na área do turismo, por efeito do adiamento do pico viral.
São tudo péssimas notícias para Portugal, que obrigarão o governo a negociar com Bruxelas um plano de emergência e que justificam concertação política para dar força à posição nacional. Possivelmente, o Bloco Central pode ser necessário ainda antes do final do ano…