Fábrica Braço de Prata contra medidas impostas pelo Governo: Encerrar irá ser “a pior sexta-feira 13” da história do espaço

“É urgente mostrar como a vida que é importante salvar é a vida das experiências de criação e de festa, a vida dos encontros, a vida que procura sempre novas formas de vida”, sublinham num comunicado publicado nas redes sociais. 

A Fábrica Braço de Prata, em Lisboa, um espaço que é palco de vários espetáculos e concertos, fez um comunicado, esta quinta-feira, a criticar as medidas tomadas pelo Governo para controlar a propagação do Covid-19, que já deixou 112 pessoas infetadas em Portugal.

A Fábrica Braço de Prata defende que “todas as medidas sanitárias impostas pela epidemia do Coronavírus respondem a uma agenda política securitária” e que  “em nome da proteção dos cidadãos, suspendem-se todos os seus direitos políticos".

“O caso da China é o mais revelador. Mas, diante do vírus, não apenas Xi Jinping, mas Putin e Trump tornam-se os heróis do momento. Eles querem convencer-nos que tudo deve ser sacrificado à necessidade de salvaguardar a saúde de cada um de nós”, acusam.

"A Fábrica do Braço de Prata tem resistido a este colapso induzido. Adoptámos desde o início todos os cuidados sanitários. Conseguimos assim manter até hoje toda a nossa programação. Não cancelámos um único concerto, um único evento performativo, uma única aula da escola de música, uma única exposição", salientam. 

No entanto, depois da decisão do Governo de encerrar todos os estabelecimentos de ensino e apelar a que as pessoas fiquem em casa o máximo possível, "deixou de fazer sentido a nossa luta por manter abertas as nossas salas de concerto, a nossa livraria e o nosso restaurante. Em assembleia geral, decidimos por unanimidade encerrar todas as atividades (…) até 31 de março”.

Apesar de defenderem que é uma forma de proteger as pessoas do contágio do novo coronavírus, na visão do espaço, "é também uma limitação dos cenários públicos de pequenas multidões" sublinham.

Encerrar a Fábrica irá ser "a pior sexta-feira 13" da história do estabelecimento, afirmam no comunicado. “Com esta decisão estamos a adiar, e em alguns casos simplesmente a anular, mais de 60 concertos, uma dezena de laboratórios de performance, vários lançamentos de livros, para não falar em quase uma centena de aulas da nossa escola de música. É uma catástrofe para os músicos que contavam com as nossas bilheteiras, uma catástrofe para os nossos vizinhos que se habituaram a almoçar e jantar a baixo custo no nosso restaurante, uma catástrofe para os nossos alunos que fizeram da Fábrica o seu habitat quotidiano, onde estudam, ensaiam e comem”, lamentam. 

“Façamos, então, todos quarentena, mas uma quarentena de combate. Contra aqueles que nos querem convencer que vivemos tempos onde a política se tornou uma governação biológica, é urgente mostrar como a vida que é importante salvar é a vida das experiências de criação e de festa, a vida dos encontros, a vida que procura sempre novas formas de vida. Que a quarentena da Fábrica seja apenas o recuo para um salto civilizacional”, concluem. 

Apesar de terem recebido alguns comentários de apoio, a grande maioria dos seguidores da Fábrica criticou a sua posição e apelou à consciencialização do problema que Portugal enfrenta com o surto do Covid-19.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Contra vírus e marés Sabemos que todas as medidas sanitárias impostas pela epidemia do Coronavírus respondem a uma agenda política securitária. Estamos sob um “estado de excepção”. Em nome da protecção dos cidadãos, suspendem-se todos os seus direitos políticos. O caso da China é o mais revelador. Mas, diante do vírus, não apenas Xi Jimping, mas Putin e Trump tornam-se os heróis do momento. Eles querem convencer-nos que tudo deve ser sacrificado à necessidade de salvaguardar a saúde de cada um de nós. A Fábrica do Braço de Prata tem resistido a este colapso induzido. Adoptámos desde o início todos os cuidados sanitários. Conseguimos assim manter até hoje toda a nossa programação. Não cancelámos um único concerto, um único evento performativo, uma única aula da escola de música, uma única exposição. Hoje, porém, fomos confrontados com uma situação absolutamente nova. Com o anúncio da decisão governamental de encerrar todas as escolas e de apelar a uma quarentena generalizada, deixou de fazer sentido a nossa luta por manter abertas as nossas salas de concerto, a nossa livraria e o nosso restaurante. Em assembleia geral, decidimos por unanimidade encerrar todas as nossas actividades a partir de amanhã, e até 31 de Março. É uma forma de proteger os nossos colaboradores do perigo de contágio. Mas é também uma limitação dos cenários públicos de pequenas multidões. Encerrar a Fábrica a partir de amanhã será a pior Sexta-feira 13 da nossa longa história. Com esta decisão, estamos a adiar, e em alguns casos simplesmente a anular, mais de 60 concertos, uma dezena de laboratórios de performance, vários lançamentos de livros, para não falar em quase uma centena de aulas da nossa escola de música. É uma catástrofe para os músicos que contavam com as nossas bilheteiras, uma catástrofe para os nossos vizinhos que se habituaram a almoçar e jantar a baixo custo no nosso restaurante, uma catástrofe para os nossos alunos que fizeram da Fábrica o seu habitat quotidiano, onde estudam, ensaiam e comem. [Continua nos comentários]

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