A Comissão Europeia aprovou, esta semana, a venda de seis barragens da EDP a um consórcio constituído pelas empresas francesas Engie (com participação de 40% do capital), Crédit Agricole Assurances (35%) e Mirova – Grupo Natixis (25%) – concluindo que a operação não afeta a concorrência na União Europeia face ao seu impacto limitado no mercado.
A elétrica anunciou a venda da concessão de seis barragens em Portugal, em dezembro, localizadas na bacia hidrográfica do rio Douro, totalizando 1.689 megawatts (MW) de capacidade instalada, por 2,2 mil milhões de euros.
Mas mesmo depois da luz verde por parte de Bruxelas falta agora a autorização da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para avançar. Ainda assim, a transmissão dos títulos só obtém luz verde depois de comprovado que os compradores têm capacidade técnica e financeira que foram exigidas ao titular original e que estão cientes das obrigações envolvidas nesta transação.
Em causa estão três centrais de fio de água, em Miranda, Bemposta e Picote, com 1,2 gigawatts (GW) de capacidade instalada e três centrais de albufeira com bombagem, em Foz Tua, Baixo Sabor e Feiticeiro, com 0,5 GW de capacidade. Na altura, estimava-se que a transação ficasse concluída no semestre do ano, faltando as aprovações regulatórias necessárias, como era o caso do aval de Bruxelas.
A Moody’s chegou a afirmar que a venda destas seis barragens não era só positiva para o rating da EDP como também iria permitir melhorar o seu perfil de risco, na medida em que a percentagem dos resultados referente a atividades reguladas e contratadas aumentará para 80% do EBITDA. Em relação ao perfil de risco da empresa, garante que deve registar uma melhoria modesta. A agência de notação lembrou ainda que a alienação está «totalmente em linha» com o plano estratégico para 2019/20, apresentado em março.
Com esta alienação, a EDP perderá o monopólio da produção hídrica em Portugal, com a sua quota a descer dos 100% para os 64%. Com esta venda, «o setor entrará assim no mercado da concorrência, o que poderá trazer alteração ao preço e ao nível do serviços prestados», chegou a referir, na altura, Nuno Caetano, analista da corretora Infinox.
Reduzir a dívida do grupo e minimizar os riscos foram algumas das razões apontadas pelo CEO da elétrica para justificar a alienação. Mas a verdade é que a operação vai ao encontro do plano estratégico da empresa até 2022, anunciado em março, que assentava no reforço na energia renovável e na venda de ativos.
Na altura da venda, António Mexia, anunciou que esta operação permitia «antecipar em 74% as metas definidas no plano». Mas o presidente da empresa esclareceu que «não há intenção de ir para além dos objetivo anteriormente definidos» e, nesse sentido, a EDP não pretendia vender mais unidades do seu portefólio.
Federação quis travar negócio
A Fiequimetal pediu para não dar luz verde à operação por considerar que caso avançasse «deixaria o país ainda mais dependente, do ponto de vista energético, já que o centro de decisão passaria para as mãos de um consórcio francês», revelou, na altura, ao SOL.
A estrutura sindical apontou também o dedo à elétrica portuguesa. «Não se pode aceitar que a administração da EDP esteja a afastar-se, cada vez mais, dos princípios que nortearam a criação da empresa e que esta se esteja a tornar uma central de compra e venda de ativos, em vez de uma empresa de serviço público de eletricidade».
Prioridade: EUA
O mercado norte-americano tem sido apontado como uma das prioridades da EDP, onde já investiu mais de 10 mil milhões de euros. A garantia foi dada pelo CEO da elétrica durante a apresentação de resultados referentes a 2019, cujos lucros desceram 1% para os 512 milhões de euros.
António Mexia mostrou-se otimista e afirmou que o crescimento nos EUA não deverá ser afetado pela participação que os chineses da China Three Gorges têm no capital da empresa (23,2%). «Achamos que estão criadas as condições para que o crescimento não seja afetado», acrescentou. Mas deixou uma garantia: «Estamos atentos às nossas obrigações na regulação americana, e penso que temos todas as condições para que o nosso desempenho nesta plataforma prioritária não seja afetado».
A EDP tem revelado que cerca de 75% do investimento previsto para os próximos quatro anos será em energias renováveis, sendo os Estados Unidos o principal destino (40%), seguidos pela Europa (35%) e o Brasil (25%).