O Ruanda sabe perfeitamente o que são surtos de doenças infecciosas, e que vale mais prevenir que remediar: ainda não havia nenhum caso no país e já se instalavam lavatórios portáteis junto de boa parte das paragens de autocarro, bares, cafés e restaurantes na capital, Kigali. É que lavar as mãos frequentemente, evitando tocar nos olhos entretanto, é o método mais recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para impedir a propagação do novo coronavírus, e as autoridades ruandesas seguiram o conselho à risca. Além disso, foram lançadas campanhas para informar os cidadãos dos riscos do Covid-19 via sms, como já tinha sido feito em casos de cólera ou ébola. “Todos os países deveriam adotar isto”, elogiou o responsável da OMS para o Ruanda, Vedaste Ndahindwa. Ainda assim, o Ruanda anunciou ontem ter detetado mais quatro casos de coronavírus, elevando o total a uns mero cinco – por agora.
Enquanto o epicentro da pandemia de Covid-19 e move da China para os países europeus, vários Estados africanos, incluindo o Ruanda, estão cada vez mais preocupados com viajantes vindos destes países. África continua a ser o continente com menor número de casos confirmados – menos de 400, esta segunda-feira – algo que pode ser explicado em parte pela falta de testes, mas também por esforços que envergonham regiões mais ricas e desenvolvidas.
Algumas das medidas mais duras contra o Covid-19 vieram da África do Sul, que com menos de uma centena de casos declarou a situação como desastre natural. O Quénia proibiu todos os voos vindos de países com casos de coronavírus. Já o Sudão encerrou todos os portos, fronteiras terrestres e aeroportos, enquanto o Egito, o país africano com mais casos de coronavírus – 126 registados na segunda-feira – cancelou todos os voos. Já o Ruanda, à semelhança do Uganda, Mali, Mauritânia ou Tunísia, impôs quarentena a quem quer que venha da Europa. A tendência parece ter-se invertido: a Mauritânia já deportou 15 turistas italianos por violarem a quarentena, a Tunísia outros 30.
É perfeitamente compreensível a preocupação: apesar de um início suave em África, muitos especialistas avisam que este poderá sofrer as maiores consequências da pandemia, pela falta de acesso à saúde e saneamento em muito do continente. Ainda assim, a experiência de enfrentar o ébola deixou muitos Estados africanos mais preparados para o Covid-19. “Houve um substancial aumento tanto a nível de capacidade dos recursos humanos, investimento financeiro e fortalecimento da capacidade de resposta a epidemias na África subsaariana”, considerou o médio norte-americano Craig Spencer, que em 2014 sobreviveu ao ébola quando tentava auxiliar no combate à doença, falando ao Intercept.