Após três dias seguidos em que o número de novos casos foi ultrapassado pelo número de recuperações, a Coreia do Sul parece estar a estabilizar o seu surto da Covid-19: foram registadas 74 novas infeções esta segunda-feira, comparativamente às 303 pessoas que recuperaram completamente do vírus. “Mas não devemos esquecer as lições que aprendemos”, avisou em conferência de imprensa o número dois do ministério da Saúde sul-coreano, Kim Gang-lip. Apesar das boas notícias, mantêm-se surtos esporádicos em locais como Daegu, no sudeste do país, que foi declarada uma zona de desastre, e Seongnam, a sul de Seul, onde membros de uma igreja protestante ignoraram as ordens para cancelar todos os serviços religiosos. “Isso implica que o coronavírus ainda se está a espalhar pelo país”, notou Gang-lip.
Afinal, qual foi o segredo para que a Coreia do Sul, um dos primeiros países afetados, pareça ter ultrapassado de forma tão eficaz o pior desta pandemia? “Os testes são centrais, porque leva a deteção rápida, minimiza a propagação e o tratamento”, explicou à BBC a ministra dos Negócios Estrangeiros sul-coreana, Kang Kyung-wha, notando que quase 250 mil pessoas já foram testadas no seu país, muitas através de estações de teste drive-through. Mas a velocidade da ação das autoridades certamente também foi um fator importante. Não só aprovaram rapidamente os kits de teste ao Covid-19, mal a sua sequência genética foi divulgada pela China, como logo a 21 de fevereiro, quando o número de casos não ultrapassava os 150, foram fechados todos os espaços públicos em Seul, uma cidade com cerca de 9,7 milhões de habitantes.
Contudo, surpreendentemente, as medidas de distanciamento social compulsivo na Coreia do Sul não foram tão estritas como seria de esperar. “Andar nas ruas ou sair da cidade não foi proibido como na China, Espanha ou Itália”, contou à EFE uma residente de Daegu, na província de Gyeongsang. Nem esta província, onde se centraram 87% dos casos registados na Coreia do Sul, foi isolada, como aconteceu inicialmente no norte de Itália: a maioria dos cidadãos parece ter acatado as orientações do Governo sul-coreano, que lançou campanhas apelando ao cidadãos que fiquem em casa, evitem viajar ao máximo e mantenham boas práticas de higiene.
“Porque na Coreia do Sul já ocorreram este tipo de surtos, eles sabem que tipo de passos precisam de ser tomados e quão sério o perigo é”, considerou Leighanne Yuh, investigador na Universidade da Coreia, em Seul, em declarações ao Financial Times. Referia-se a casos de surtos como o SARS, entre 2002 e 2003, ou o MERS, em 2015, dois vírus que semearam o pânico na Coreia do Sul.