Portugal corre o risco de centenas de empresas e de milhares de empregos serem definitivamente destruídos. O alerta é dado por Eugénio Rosa, tendo em conta “o estado real da nossa economia” e “a sua capacidade para suportar as consequências da crise, cujos efeitos são já visíveis”. O economista dá como exemplo o desinvestimento nas administrações públicas que tem sido levado a cabo desde 2012.
“O investimento público nem foi suficiente para compensar a destruição causada pelo envelhecimento ou obsolescência ou desatualização dos equipamentos existentes. No período 2012/2018, o investimento realizado foi inferior ao destruído em 10424 milhões de euros”, nota, acrescentando que “o campeão do desinvestimento público” foi a dupla Costa/Centeno. “No período 2015/2018 (apenas 4 anos) o desinvestimento público atingiu 6613 milhões de euros, o que causou uma profunda degradação dos equipamentos públicos, de que o SNS é apenas um exemplo”, refere, no seu último estudo.
E os alertas não ficam por aqui. De acordo com Eugénio Rosa, a economia portuguesa está também muito dependente do exterior e, como tal, “muito vulnerável ao que acontece nos outros países”. E lembra que, entre 2018 e 2019, a percentagem que a soma das importações mais exportações representa em relação ao valor do PIB aumentou de 68,2% para 82,8%, o que significa que “aumentou significativamente a dependência da economia portuguesa em relação ao exterior, estando assim fortemente vulnerável ao que acontece nos outros países”, lembrando que “a vulnerabilidade é ainda maior, se tiver presente que, em 2019, 31,8% das exportações portuguesas foram serviços, e a grande maioria é constituída por receitas do turismo (18431 milhões de euros em 2019)”.
E lembra que o turismo, e todas as empresas e trabalhadores ligados a ele (companhias áreas, hotéis, restauração, alojamento, industrias de lazer, etc.), é um dos setores mais afetados pela crise do coronavírus.
E Eugénio Rosa deixa um alerta: “É este país com uma economia frágil, com um Estado que continua fortemente endividado e com uma grande desigualdade na repartição da riqueza entre capital e trabalho que temos para enfrentar a crise. Manter a economia em funcionamento, evitar a destruição de centenas de empresas e de milhares de postos de trabalho é também vital para vencer esta crise, até porque não sabemos a sua duração, e os seus efeitos para a vida dos portugueses poderão ser mais devastadores que os da crise 2008/2015. Muitas empresas já começaram a ter problemas de liquidez e os despedimentos já começaram”, conclui.