Falar do coronavírus é hoje quase incontornável. Muito se escreve e, entre a informação e a desinformação, já não sabemos bem no que acreditar e todos estamos a tomar medidas de acordo com o que nos parece sensato ou recomendado. Uns mais que os outros.
O tema é delicado e, naturalmente, a cada minuto há atualizações e o apelo à responsabilidade, sensatez e civismo é imperativo.
A verdade é que as escolas vão fechar, muitos vão trabalhar a partir de casa, as saídas à noite, viagens ou idas a restaurantes serão canceladas. Podemos de alguma forma dizer que o país vai parar. A nossa vida não vai só abrandar, como alguns dizem, mas podemos dizer que vai mesmo parar. Pelo menos a vida que estamos habituados a fazer.
E isto cria ansiedade, estranheza, insegurança e daí podermos de forma leve, e não técnica, dizer que entramos lentamente numa fase de pseudopânico. É certo, que tudo está a ser feito, para se manter a serenidade e, como em tudo, ela irá entranhar-se à medida que nos formos habituando a esta situação, mas não podemos negar o estado de alerta em que todos nos encontramos.
E neste estado de alerta, como se comportam as marcas? Se o impacto na economia é inegável e será provavelmente catastrófico, foquemo-nos apenas para restringir o nosso pensamento à comunicação das marcas.
Deverão as marcas parar de comunicar e focarmo-nos apenas no essencial? Quem vai pensar em comprar carros, óculos de sol ou artigos de luxo quando o contexto é este? Ou em mudar eletrodomésticos ou de operador de telecomunicações?
Por este motivo muitos setores estão a reduzir investimento e a diminuir campanhas, não só por saberem que o seu impacto será reduzido, mas porque sabem que poderão precisar desse budget mais para a frente, para outro tipo de comunicação, ou até para ‘ajudar’ ao negócio.
Ao mesmo tempo, há bens essenciais e outros setores para quem esta, pode ser, ironicamente, uma época de oportunidades. Comunicar nem precisam, mas precisam de se manter no top of mind e continuar uma certa normalidade que também faz parte da vida destas marcas.
Por outro lado, sabemos que as pessoas vão estar em casa, que provavelmente o consumo de televisão vai disparar e que comunicar nesta altura pode ser uma forma de nos mantermos próximos das pessoas numa altura tão comunicada. A criatividade pode e deve inclusivamente adaptar-se à nova realidade e tornar-se assim relevante neste contexto. O pior erro das marcas, a meu ver, será agir como se nada fosse. Manter a normalidade é uma coisa, ignorar o enquadramento extraordinário em que nos encontramos, é outra.
Assim como apelamos à responsabilidade de cada cidadão nesta crise, apelamos também à das marcas para que continuem presentes da maneira certa, para que continuem a fazer mexer a nossa economia dentro do possível e para que, mais do que nunca, consigam estar ao serviço das pessoas.
Numa altura em que as palavras comunidade e solidariedade ganham uma nova dimensão, é este o desafio de todos.
Resguardem-se, sejam responsáveis e mantenham sempre a esperança no ar. Porque ninguém quer entrar em fases de pânico.
*Diretora Criativa Havas Sports & Entertainment