O impacto da pandemia de covid-19 deverá forçar uma “interrupção abrupta” no mercado imobiliário. Segundo a análise mensal de mercado da IMOVENDO, o dia 11 de março marcou o fim do ciclo da expansão imobiliária em Portugal, sendo o período a partir desta data caracterizado por uma “incerteza e paragem profundas”. Segundo a consultora imobiliária, a principal causa desta interrupção prende-se com o adiamento de “milhares de escrituras nos próximos dias e semanas”.
A IMOVENDO alerta que o próximo ano será difícil no setor e que, “se tudo correr bem”, a recuperação pode iniciar-se em finais de maio. “Por cada mês que passe, serão sempre precisos mais dois meses para se iniciar a retoma”, explica o CEO da empresa, sublinhando que a definição do preço certo e a utilização de ferramentas mais adequadas para atingir a procura serão fatores-chave. “Bem como o será a necessária diminuição das comissões cobradas pelos profissionais do sector, de modo a garantir uma maior fluidez no mercado”, explica Manuel Braga.
Todas as decisões de investimento imobiliário “presentes e futuras” foram colocadas em “pausa” devido à pandemia e à consequente declaração do estado de emergência, segundo a IMOVENDO. O estudo indica ainda que, nos próximos meses não haverá apenas um adiamento de escrituras marcadas, como também a falência e desemprego no setor e a baixa gradual de preços dos imóveis, numa fase pós-crise. “Há milhares de portugueses que fizeram reservas de imóveis e firmaram contratos promessa de compra e venda nas últimas semanas e que poderão estar viver hoje um verdadeiro drama, pois estão dependentes da realização de escritura de venda da sua actual casa, para que aqueles processos possam ser concluídos… é um efeito dominó que poderá arrastar para situações, em alguns casos, insustentáveis milhares de famílias!”, alertou Manuel Braga.
Em comunicado, a consultora imobiliária afirma ainda que durante o último mês a procura de imóveis sofreu uma queda de 57.7%. A nota acrescenta ainda que, ainda em relação às escrituras, haverá muitas pessoas que não conseguir realizar a a escritura de novas casas e, por verem “os seus contratos de arrendamento a terminarem”, vão ficar sem sítio onde ficar.
Quanto aos trabalhadores, a consultora alerta ainda para o facto de os consultores imobiliários, em regime full-time e part-time, ficarem sem uma parte do seus rendimentos, o que fará com que “uma parte significativa desses profissionais” se mantenham em atividade. ”Não só as imobiliárias que vivem de 1 ou 2 transações por mês não aguentarão 2 ou 3 meses sem vender, como, por outro lado, haverá profissionais obrigados a sair do setor, sobretudo aqueles que se dedicam de forma exclusiva ao imobiliário e que tenham rendimentos inferiores a €25.000”, explica Manuel Braga.
Numa fase “pós-pamndémica”, o CEO explica que a procura vai diminuir e que “os investidores nunca regressarão em força ao mercado, uma vez que mesmo com o gradual retorno à normalidade, a aquisição de uma (nova) habitação própria permanente não será uma prioridade e tal fará com que os compradores fiquem expectantes de sucessivos ajustamentos em baixa dos preços dos imóveis… e por este motivo será de esperar que os preços caiam ainda mais!”.