As crianças precisam de se distrair. Todos os dias. E nos tempos que correm, de isolamento social, é ainda mais importante dar atenção àquilo que é necessário para promover tanto a atividade física como psicológica entre os mais novos. Os pais, muitos deles em regime de teletrabalho, precisam de conciliar o emprego com a agitação dos filhos e é aí que surge o cansaço extremo. No entanto, o mais importante nestes casos é definir horários e saber conciliar o tempo de trabalho com os momentos de diversão e lazer.
“Tenho recebido emails de pais que estão em teletrabalho e com dificuldade em lidar com os filhos. De facto, existem muitos pais a trabalhar em casa, arduamente, e não vão para o sofá ver televisão durante o horário de trabalho. Esses pais têm, por vezes, ainda de ajudar os filhos nos trabalhos de casa, ou seja, têm o dobro do trabalho. É um cansaço enorme. E o pior disto tudo é que neste momento não existe alternativa”, disse ao i o psiquiatra Júlio Machado Vaz.
Depois, existem crianças que vivem situações dramáticas, cujos pais estão infetados com a covid-19. Nestas situações, a preocupação aumenta de forma abrupta, tal como sublinhou a psicóloga Rita Jonet ao i.
“Numa das famílias que estou a acompanhar, os pais estão infetados. São quatro filhos e dizem-me que têm tempo para fazer jogos e perceber a família. Estão a ser acompanhados, mas são momentos muito stressantes. É necessário uma resiliência enorme, tanto ao nível das atitudes que se tomam como na relação entre os pais e os filhos”, admitiu. “E se os pais, por vezes, não estão a proceder da melhor forma, os filhos ficam ainda mais irrequietos”, explicou, admitindo que sente que algumas crianças estão um pouco confusas com tudo o que está a passar-se no país. “Esta semana, uma criança, com quem comunico por videochamada, disse-me que achava muito estranho a professora e a psicóloga entrarem na casa dela assim, através de meios digitais. Acham mesmo estranho”, contou.
E o que pode fazer-se para tentar minimizar as eventuais birras das crianças e manter-lhes a mente ocupada? “Há que continuar a motivá-las, fazer trabalhos, criar rotinas, cozinhar. Existem plataformas online onde também podem aprender. Isto de ficar em casa em isolamento é também uma das formas de aproximação entre pais e filhos”, atirou Rita Jonet, que também tem testemunhos de pais que ficam espantados com o comportamento dos filhos em casa. “Há pais que me dizem que agora já sabem o que é lidar com crianças constantemente”, disse. “Isto depende tudo muito das famílias. Acompanho crianças até aos nove ou dez anos e o que sinto é que existem pais perdidos, mas também há os que são proativos e que têm ideias construtivas”, concluiu.