Seguramente haverá muitas famílias, hoje, que estão a viver angustias enormes pela falta de trabalho, pela falta de dinheiro ou, simplesmente, pela falta de tudo. Confinados que estamos às nossas casas e pouco mais, há, pois, muitíssimas famílias que começarão a passar mal. Como é que um bicharoco tão pequenino coloca em causa todo o sistema económico e social, não apenas de um país, mas de todo o mundo.
Depois da passagem do vírus o mundo nunca mais será o mesmo. As famílias, as escolas, os empregos, tudo será repensado ao nível global. E é bom que assim seja! É bom que repensemos na forma como estamos a viver, porque sempre nos disseram que não poderíamos viver de maneira diferente.
Quantas reuniões presenciais foram agora substituídas por videoconferências? Quantas pessoas deixaram de pegar no seu carro para fazer uma reunião, para fechar um negócio, para tomar uma decisão? Quantos carros menos existem nas estradas só por causa desta opção? É evidente que não estamos habituados a este tipo de reuniões, mas talvez possamos aprender com esta experiência.
Também a educação. Parece que há muitas escolas que enviam aulas em vídeo, que enviam trabalhos de casa e iniciam um sistema de ensino não presencial. Isto é algo que estava muito pouco desenvolvido no nosso país, pelo menos. Mesmo sendo evidente que as crianças têm que desenvolver as suas competências sociais e precisam de conviver com outras crianças para se socializarem. Porém, também é verdade que pode emergir desta nova experiência um novo sistema de ensino.
Tudo é novo para nós. Tudo é novo para todo o mundo. Mas algo novo tem de emergir desta nossa experiência. Haverá muitas formas de nos organizarmos no futuro e talvez esteja aqui a sua base. Repensar o sistema de ensino. Repensar o sistema laboral. Repensar o sistema económico. Tudo isto é fundamental para nos repensarmos enquanto sociedade.
Haverá uma coisa que vai surgir desta nossa experiência: a criatividade. O homem faz tudo para sobreviver e seguramente que haverá um conjunto de atividades criativas que inventaremos no futuro. Adaptamo-nos muito facilmente às adversidades e somos altamente criativos. Nada será como antes, é verdade! Mas veremos que no final de tudo, o mundo não caiu!
É este o momento de aproveitarmos o muito tempo livre com a nossa família e com os nossos trabalhos para repensarmos o nosso modelo de gestão social. Serão quinze dias? Um mês? Pois, não sabemos. Mas não podemos perder esta oportunidade de nos repensarmos como pessoas e como sociedade.
Os católicos têm, em cada ano, um período que se chama Quaresma. Durante esse período somo convidados a repensar a sua vida e a fazer uma Páscoa, uma mudança de vida radical. Uns aproveitam, outros não. Uns fazem as práticas próprias da Quaresma, outros não fazem nada.
Agora estamos todos, para além do período da Quaresma, num período de quarentena. Podemos aproveitar totalmente este tempo para mudarmos de vida. Podemos pensar numa Páscoa real e verdadeira na nossa vida. Ou podemos pensar neste período como uma grandessíssima penitência por termos de ter a família toda em casa, todos os dias, e de aturar as crianças, todos os dias.
Ao fim deste período, podemos todos dizer que aproveitamos este tempo e que foi um marco na nossa vida ou podemos dizer que foi o maior desperdício de tempo. Em todo o caso, aproveite bem estes momentos…