No livro The End of College, Kevin Carey sugere que o modelo das nossas universidades, atualmente prevalecente e criado na primeira metade do séc. XX, foi desenhado numa altura de escassez de formação, onde o campus era restrito para os alunos conhecerem colegas, professores e pessoas inteligentes. Era também um local para os alunos estudarem presencialmente nas nobres bibliotecas e terem acesso a livros centenários. O conhecimento distribuía-se por uma elite.
Hoje já não vivemos num tempo de escassez de formação. As universidades proliferam. Os formatos educativos também. Os alunos e professores conhecem-se na universidade, mas alimentam virtualmente as relações. O mundo ficou plano de acordo com Thomas Friedman. As grandes bibliotecas vêm ter connosco através da internet. O conhecimento partilha-se num campus virtual disponível para todos.
As mudanças sociais, culturais e educativas que atualmente se vivem nas universidades refletem a emergência de um novo paradigma educativo. O surto da pandemia do coronavírus veio mostrar que a educação a distância é possível e mais fácil do que parecia.
Nós estamos conduzindo uma experiência natural e aprendendo da forma mais difícil tudo o que pode ser feito remotamente, como sugere Peter Schwartz. Nas próximas semanas vamos assumir as nossas responsabilidades como professores e desenvolver soluções inovadoras para mitigar os desafios que a pandemia nos criou. Vamos lecionar a partir de casa, com os meios que temos à disposição e improvisar um modelo de ensino a distância. Todos vamos ensinar com espírito de missão para com os nossos alunos, a nossa instituição e o nosso país. Mas será um erro pensarmos que as universidades vão transitar de imediato para um modelo de educação a distância. O que a generalidade dos professores irá fazer de imediato é conduzir educação tradicional a distância, como sugere Kevin Carey no New York Times.
Certo é que, depois desta experiência, não voltaremos ao ponto inicial e teremos uma oportunidade para fazer coisas que não conseguimos anteriormente. Mas, no pós-coronavírus, estaremos preparados para migrar para universidades virtuais e para um ensino a distância? Não sei. O ensino precisa de presença física. Mas estes poucos dias da experiência sugerem que estamos efetivamente preparados para reduzir o número de horas presenciais e enveredarmos por um modelo educativo híbrido, contemplando uma componente forte de ensino presencial e uma outra de ensino a distância. É aliás um modelo que poderá ser refletido, de forma progressiva, nas próximas revisões dos planos curriculares.
*Diretor da Licenciatura e Mestrado em Engenharia Civil Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias