Desde que estamos em estado de emergência, e em alguns casos até antes, que o teletrabalho sempre que possível entrou em vigor. No meu caso, e no caso da maior parte das agências de meios e criativas, o teletrabalho tornou-se a norma.
Rapidamente nos adaptamos, graças ao poder da tecnologia, e a uma flexibilidade própria do setor (ou simplesmente das pessoas) e encontramos formas de continuar a manter o ritmo. As dicas são muitas sobre como nos podemos manter produtivos e organizados e, de repente, parece que uma onda de fascínio invadiu gestores e equipas.
De repente somos todos ainda mais colaborativos, mais empenhados, mais motivados e até, ironicamente, mais próximos. É normal que assim seja. Os tempos pedem união e esforço e nisso todos somos bons (ou menos maus).
As reunião deram lugar a video calls, o telefone não para, apesar de isolados, sentimos que estamos constantemente no centro de tudo o que está a acontecer, numa partilha gigante de informação, conhecimento, negócio.
De repente, porque a necessidade aguça o engenho, conseguimos criar campanhas em tempo recorde e colocá-las no ar com a mesma prontidão, encontrar soluções criativas diferentes e reinventarmo-nos de um dia para o outro. De repente, parece que tudo o que andam a pedir se concretizou de um dia para o outro, com uma agência mais ágil e eficiente.
É certo que tem sido este o caminho e os resultados, dentro do panorama, têm sido bons.
Mas não nos deixemos iludir apenas pelas aparências. Ainda que tudo funcione e que o negócio não pare e às vezes até nos dê a sensação de que anda mais rápido, a verdade é que o contacto humano faz falta também ao negócio.
Faz falta encontramo-nos no elevador, no cafezinho da avenida, nas pausas, nas reuniões. Faz falta o riso, o toque, a expressão corporal, o segredo que se diz no meio de uma reunião e que revela a maior das cumplicidades. Faz falta o confronto, o debate, os desafios, os deadlines, os cronogramas. Faz falta ver como aquela veio vestida para a reunião ou como o não sei quantos cortou o cabelo e está super-ridículo.
Muitos acharão que isto nos retira a produtividade e que, se calhar, em casa estamos mais concentrados ou focados (teoria que cai por terra se tivermos miúdos pequenos constantemente a interromper a produção de seja o que for).
Ambas as situações terão por isso vantagens e desvantagens e seguramente ninguém nos perguntou como queríamos fazer, não temos outra hipótese e temos de seguir assim.
Mas eu tenho saudades de pessoas e do burburinho do escritório. Não que me falte barulho cá por casa com dois miúdos pequenos, mas trabalho é trabalho, conhaque é conhaque.
Aguentemo-nos firmes em casa, como tem de ser, e a garantir que o negócio não para e no fim de tudo isto cá estaremos para analisar os prós e os contras desta nova forma de trabalhar.
Mas a mim, não me tirem a minha gente. Bem perto e sem ser por um qualquer ecrã.
Fiquem bem. Fiquem em casa.
*Diretora Criativa Havas Sports & Entertainment