O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, afirmou que a taxa de mortalidade em Portugal sofreu um aumento em março e atribui este problema ao facto de os doentes não covid-19 estarem a ficar "para segundo plano, por falta de estratégia e organização da tutela", depois da reorganização dos hospitais e centros de saúde para combater o novo coronavírus.
De acordo com dados da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e do CINTESIS ocorreu uma subida da média de 297 mortes por dia nos primeiros sete dias de março, para uma média de 352 mortes por dia nos últimos sete dias. Os últimos dez dias de março de 2020 registaram o maior número de óbitos dos últimos 12 anos — 3471. Os dados da London Business School alertam ainda para mais 984 mortes entre 16 de março e 3 de abril, comparativamente ao período homólogo, dos quais apenas 266 morreram infetados com o novo coronavírus.
Num comunicado disponível no site da Ordem dos Médicos e publicado esta quinta-feira, o bastonário afirma que "os indicadores que nos chegam sobre o excesso de morbilidade e mortalidade e algumas situações concretas de doentes mostram que, infelizmente, os doente não covid-19, por falta de estratégia e organização da Tutela estão a ser relegados para segundo plano em patologias que não podem esperar", denuncia.
Na nota, Miguel Guimarães sublinha que devido à pandemia "é impossível conseguirmos manter toda a atividade normal e responder aos doentes Covid-19 no Serviço Nacional de Saúde", no entanto, aponta que a Ordem sempre disse que era necessário para evitar o aumento da mortalidade ser feita "uma reprogramação das agendas, salvaguardando os casos prioritários e urgentes".
"Não podemos aceitar que se esteja a fazer uma gestão meramente politica desta pasta, em que parece que só os números da pandemia importam e todas as outras doenças e mortes deixaram de existir", afirma Miguel Guimarães.
Apesar de a diretora-geral da Saúde já ter apelado aos pacientes com problemas graves que não deixem de recorrer aos serviços de saúde, o Portal do SNS afirma que tem havido muito menos solitação de serviço médicos. Só em março, registaram-se menos 246 mil episódios de urgência em relação ao mesmo mês do ano passado e menos 181 mil do que em fevereiro.
“Temos uma quebra colossal no número de doentes que vão à urgência e nem sabemos o que está a acontecer nas restantes linhas de atividade. É urgente que o Ministério da Saúde crie uma task-force, eventualmente a funcionar junto da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), que monitorize com muita transparência e seriedade o que está a acontecer aos outros doentes e que faça contactos diretos para que ninguém fique perdido. Os danos que a COVID-19 está a infligir na nossa sociedade já são suficientemente cruéis para podermos aceitar ainda mais danos colaterais”, reforça o bastonário.
"As idas a uma urgência hospitalar, para os casos urgentes que exigem uma resposta diferenciada e rápida, não devem ser adiadas, muito em particular perante sintomas de doenças agudas como o enfarte agudo do miocárdio ou o acidente vascular cerebral", conclui a nota.