A viabilidade dos projetos políticos, sociais ou económicos define-se pelas ideias que lhes dão substância, mas também pela sua liderança e pela capacidade que esta tem de nos inspirar, para que superemos limites e nos transcendamos, criando a dinâmica necessária para que seja possível a concretização daquilo a que nos propomos. Dificilmente será possível que uma qualquer ambição de grupo ganhe tração e tenha hipótese de ser executada sem que exista uma liderança agregadora, que nos aponte um caminho e nos faça acreditar que conseguimos ser parte de algo maior que nós próprios. E, é claro, nota-se mais esta ausência de rumo em situações de adversidade, de crise, quando o movimento é absolutamente necessário para reagirmos aos contratempos e recuperarmos posição.
Acredito que vivemos, nestes tempos, uma dessas situações em que fazer nada não é manter a posição, mas andar para trás, ser mais pobre, perder.
Esta ameaça invisível que enfrentamos, constituída pelo novo coronavírus e pela pandemia de covid-19 que aquele provocou, pela crise económica e social que se seguirá e que pode ser profunda – porque não conhecemos os limites da doença nem a extensão dos seus efeitos nos comportamentos, nas estruturas sociais e na atividade económica –, tudo isto poderá constituir-se como a hora mais difícil que enfrentamos, coletivamente, e a maior provação para as gerações nascidas nas últimas décadas.
À medida que esta provação avança no tempo, todos teremos, em dada altura, familiares, amigos ou conhecidos, gente que, de alguma forma, nos é próxima, que sofrerá as consequências diretas da crise de saúde pública ou da crise económica e social que se avizinha e que abrirão feridas que levarão o seu tempo a cicatrizar.
Por isso mesmo, quando ainda estamos em pleno estado de emergência, em dias concretos em que as medidas de combate à pandemia se agravam, para limitar o contágio e fazer com que tudo não seja pior ainda, o que mais importa é que sejamos capazes de cerrar os dentes, de olhar em frente e de fazer renascer e crescer a esperança em cada um dos portugueses.
Temos maiores obrigações nós, os servidores públicos, porque também é nossa incumbência no serviço à comunidade sermos capazes de apontar o caminho e de inspirar quem está connosco a percorrê-lo.
Perante a situação que vivemos e os cenários que se podem desenhar para os tempos próximos, urge sermos capazes de encontrar inspiração e esperança, nas lideranças, é certo, mas também em cada um de nós, para que possamos passa-la a quem nos rodeia.
Mais do que Winston Churchill – a inspiração da resistência e da superação na II Guerra Mundial –, tantas vezes citado nas últimas semanas, precisamos de um John Fitzgerald Kennedy – que apontou à lua como um sonho que podia ser concretizado e inspirou uma geração –, precisamos de quem nos faça interrogar sobre o que podemos fazer para contribuirmos para o conjunto, para a comunidade.
Assim, “não pergunte o que seu país pode fazer si, pergunte o que você pode fazer pelo seu país”.