Este ano teremos uma Páscoa diferente. Provavelmente, única nas nossas vidas. Uma Páscoa diferente para os cristãos, impedidos de se reunirem e assinalarem os dias mais importantes do calendário litúrgico, culminando com a ressurreição de Cristo, mas celebrando ainda assim, em recolhimento, esse momento central na fé. Para os não crentes, esta Páscoa será mais solitária, pois será despida da reunião familiar. Será uma Páscoa mais triste.
Teremos uma Páscoa mais triste, marcada por um tempo de dor, de medo e de incerteza. Dor pelos que perdemos e pelos que sofrem na doença. Medo do que nos pode acontecer, a nós ou aos que mais queremos. Incerteza em relação ao futuro, seja quanto à evolução da epidemia e à sua persistência, seja no que respeita às consequências sociais e económicas durante e depois da epidemia.
O período de isolamento que vivemos foi evidenciado de forma muito impressiva pela imagem do Papa Francisco caminhando sozinho na Praça de São Pedro, no Vaticano, num anoitecer cinzento, no dia em que rezou pela Humanidade. Aquele final de dia solitário em que os católicos se reuniram em oração ficou marcado pela frase do Papa: «Estamos todos neste barco. Ninguém se salva sozinho».
A Páscoa é a celebração do amor e da renovação da esperança revelada por Jesus Cristo que o Papa Francisco tão bem sintetizou recentemente: «Não pensemos só naquilo que nos falta, mas no bem que podemos fazer. Porque a vida é um dom que se recebe doando-se. E porque a maior alegria é dizer sim ao amor, sem se nem mas».
No momento tão difícil que atravessamos, a Páscoa será celebrada de forma diferente. Esta Páscoa será protagonizada pelas «pessoas comuns», como lhes chamou o Papa Francisco. «Aquelas que estão hoje a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiros, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho». São estes os protagonistas do amor e a esperança desta Páscoa.
Há um vídeo extraordinário que vale a pena ver e que está disponível na internet (fazer uma pesquisa com: ‘Quem disse que Cristo não sai em procissão este ano de 2020?’). Nele se personifica Cristo nas várias etapas da Semana Santa em ‘pessoas comuns’ que são os heróis da atualidade. É impossível ficar indiferente àquela mensagem tão poderosa e tão verdadeira.
Este ano, pela Páscoa, não haverá procissões com imagens da Paixão de Cristo nem celebrações com igrejas cheias. Cristo estará nos hospitais com os doentes e com os profissionais de saúde, nos supermercados com os trabalhadores, nos campos com os agricultores, no mar com os pescadores, nos transportes com os motoristas e nas ruas com trabalhadores da limpeza e com as forças de segurança. Será uma Páscoa, mais que nunca, verdadeira.
Santa Páscoa.