Mais de 163 mil trabalhadores ficaram sem emprego, 981 500 estão sem atividade e mais de 1,7 milhões sofreram uma redução de rendimentos, no espaço de um mês. O alerta é dado por Eugénio Rosa, recorrendo ao inquérito realizado pela Universidade Católica que teve como objetivo avaliar o impacto da crise causada pelo coronavírus a nível do trabalho e dos rendimentos dos portugueses. “Nos vários estudos anteriores tenho chamado a atenção para as graves consequências económicas e sociais da paragem da economia, para o elevado desemprego e para a perda de rendimentos que causará a centenas de milhares de portugueses que tinham emprego”, alerta o economista.
Eugénio Rosa relembra a garantia dada pelo primeiro-ministro ao afirmar que não estava disponível para aplicar uma política de austeridade, mas o economista garante que é necessário relembrar que a austeridade já começou para mais de 1,8 milhões de portugueses. “Tomando como base o número de trabalhadores por conta de outrem em dezembro de 2019 (4,083 milhões), é fácil de concluir que já foram despedidos 163 mil trabalhadores devido à crise, e isto apenas num mês. Já tinha advertido que isso iria acontecer porque a lei do layoff, fácil e rapidamente aprovada pelo Governo, não obriga as entidades patronais a colocarem em layoff todos os trabalhadores da empresa para obterem apoio do Estado, mas apenas aqueles que eles quiserem”, refere.
Por outro lado, segundo o economista, 36% dos inquiridos têm agora rendimentos inferiores aos que recebiam antes da crise, ou seja, há cerca de um mês. “Tal percentagem representa, em relação ao emprego total, que inclui empresários e trabalhadores, 1 766 700 portugueses e, relativamente a trabalhadores, corresponde a 1 470 000. E a perda de rendimentos foi muito desigual”, salienta.
Eugénio Rosa recorre ainda aos dados divulgados pelo INE em relação ao inquérito ao emprego do quatro trimestre do ano passado e lembra que, se forem considerados os trabalhadores por segmentos de salários líquidos, os que recebiam até mil euros sofreram uma redução de 46% nos seus rendimentos (são cerca de 1 104 000); os com salários entre mil e 2500 euros tiveram uma diminuição nos seus rendimentos de 33% (são cerca de 350 mil); e os trabalhadores com salários superiores a 2500 euros por mês sofreram uma redução de 24% no seu rendimento mensal (cerca de 16 mil).
O economista diz também que o fecho de milhares de empresas e o eventual desaparecimento de muitas destas (crise do lado da oferta) e a quebra elevada dos rendimentos da maioria dos portugueses (crise do lado da procura) causada pela paragem abrupta da atividade económica, devido a uma parte significativa da população trabalhadora estar em casa (efeito do coronavírus), estão “a lançar o pais numa crise prolongada de difícil recuperação de que a maioria dos portugueses ainda não se aperceberam claramente porque ainda estão atordoados por causa da covid-19.
E dá como exemplo a dívida do Estado, que tem vindo a aumentar. “A ‘ajuda’ da União Europeia é mais dívida que depois temos de pagar com mais impostos”, avisa, acrescentando que “quanto mais tarde se atuar, maior será o afundamento da economia e maiores serão as consequências económicas e sociais dramáticas da crise, nomeadamente em liquidação de empresas, em aumento do desemprego e em perda de rendimentos, e muito mais difícil a recuperação”.