Reabertura do país? Só a partir de 15 de maio e será muito gradual

Reunião de peritos com altas figuras do Estado deixou claro que regresso à normalidade terá de ser faseado e depende da evolução da epidemia até ao final de abril

As próximas semanas continuam a ser encaradas como decisivas mas aumenta a convicção de que, mantendo-se a atual tendência no abrandamento no número de novos casos de covid-19 no país, maio será o mês do recomeço. A ideia de que será um mês de transição foi repetida várias vezes pelo Presidente da República esta quarta-feira quando falou ao país depois da terceira reunião de peritos no Infarmed – um encontro onde além dos especialistas convocados pelo Ministério da Saúde têm lugar líderes dos partidos e conselheiros de Estado. E afastou qualquer expectativa que pudesse existir de um regresso imediato e à vida antes da pandemia.

Fontes ouvidas pelo i dizem que ficou patente no encontro que o levantamento de restrições e retoma de alguns setores da economia terá de ser gradual e progressivo, acompanhado de uma forte vigilância epidemiológica para detetar precocemente surtos e rastrear contactos de doentes – e a hipótese de serem usadas aplicações para esse efeito não está descartada. Apesar do otimismo, os modelos epidemiológicos apresentados deixaram pouca margem para que seja possível o levantamento de restrições antes de 15 de maio, explicaram ao i participantes no encontro.

Ponto assente é que as decisões só serão tomadas no final do mês. Foi Marcelo a revelar que o primeiro-ministro convocou uma nova reunião para 28 de abril e até lá o essencial é cumprir as atuais orientações e o confinamento para estancar ao máximo os contágios: “É cedo para estarmos a falar do que vai ser assunto a decidir no início de maio e por isso haverá uma nova reunião proposta pelo primeiro-ministro a 28 de abril, para fazer o balanço e decidir em relação ao futuro imediato”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

Os números que vão acender as luzinhas “É preciso que abril seja bem sucedido para se poder começar a ver várias luzinhas na vida de todos os portugueses”, disse o Presidente da República, considerando que há sinais de esperança mas que só no final do mês será visível a esperada luz ao fundo do túnel.

Mais uma vez nem o Presidente e primeiro-ministro divulgaram os cenários que estão a ser analisados pelo Governo. António Costa referiu-se no entanto a “um nível” que é preciso atingir para “que possamos conviver com este vírus de uma forma que seja gerível e controlável e só nesse momento é que poderemos começar a retirar as medidas. E cada vez que retirarmos uma, teremos de ir medindo de forma a garantir que podemos retirar outra sem correr o risco de haver descontrolo. O que não podemos perder é o que já conseguimos e não podermos perder esta visão de longo prazo pois não é previsível que venhamos a dispor de qualquer vacina antes do verão de 2021”, afirmou.

Participantes ouvidos pelo i explicam que foram apontados indicadores chave: o número de novos casos diários terá de ser reduzido, assim como o balanço de vítimas mortais, um dos indicadores que neste momento ainda não dá sinais de abrandamento. Mas o indicador técnico que permite perceber o nível de controlo da epidemia é o chamado R0, o chamado número básico de reprodução do vírus. É obtido através o cálculo de quantos contágios surgem a partir de um doente infetado – ou seja o ritmo de propagação do vírus.

Para o início da epidemia, antes de serem implementadas medidas de distanciamento social, os diferentes países têm usado como referência 2,7 casos por cada doente infetado, embora existam diferentes cenários. Baixando-se do patamar de um, significa que tendencialmente se suprime a propagação do vírus e na reunião de terça-feira foi apontado o valor entre 0,7 e 0,8 para o levantamento das restrições – atualmente o R0 está abaixo de 1 mas a preocupação é perceber se os dados estabilizam. E, tal como sugeriu António Costa, será preciso perceber como oscila a cada medida levantada.

No final do encontro, o deputado do PSD Ricardo Baptista Leite defendeu que o levantamento alargado da quarentena só será possível quando for possível identificar e controlar as cadeias de transmissão, como existia no início de março, e que também só no final do mês será possível avaliar se existem condições para retomar as aulas presenciais do 11.º e 12.º ano.

Gabriela Gomes, matemática especialista em epidemiologia que tem estado a fazer a modelação da epidemia, explicou ao i que no início de maio dificilmente será aconselhável levantar restrições, uma vez que é expectável que continuem a registar-se no país cerca de 60 novos casos. No final de maio, os casos deverão estar então na casa das unidades, um cenário mais semelhante ao que se registava nos primeiros dias de março. A especialista tem dúvidas ainda assim que seja possível regressar a uma identificação exata das cadeias de transmissão, sobretudo tendo em conta que existe contágio por pessoas sem sintomas. “A transmissão está espalhada na comunidade, muitos casos não dão pistas, é como procurar no escuro. Se tivermos por dia umas poucas unidades de casos, um, dois, três, pode querer dizer que na comunidade temos 10 vezes mais assintomáticos, é difícil estabelecer esse objetivo”. Por esse motivo, Gabriela Gomes defende que o regresso à normalidade terá sempre de ser muito gradual com os indicadores permanentemente avaliados.

Quem abre primeiro? Além da decisão sobre as escolas, no final do mês deverá então haver uma imagem mais clara sobre que setores abrem e quando. No final da reunião do Governo com os parceiros sociais, João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços, defendeu a reabertura do comércio de pequena dimensão, com condições de segurança reforçadas, seguindo-se as pisadas de outros países. “Para isso o Governo tem de garantir que existem no mercado máscaras, luvas, material de desinfeção (…) e um sistema de transporte públicos adequado ao momento que vivemos”, disse, revelando que essa garantia foi dada. A mobilização do setor têxtil para o fabrico de máscaras sociais ganhou gás esta semana e a recomendação para o uso de máscaras sociais em espaços públicos fechados deverá manter-se nos próximos meses.

Segundo o i apurou, na linha da frente para a reabertura está o comércio mas também PMEs, além da indústria, sempre com medidas de segurança reforçadas e novas regras de lotação dos espaços. Vedados continuarão a estar eventos de massas. Questionado sobre se as luzinhas de maio poderiam ser as do 13 de maio em Fátima, Marcelo insistiu no significado da palavra do dia: “Transição é transição e é incompatível com fenómenos de massa.” O santuário já se tinha de resto antecipado e anunciou na semana passada que as celebrações de 12 e 13 de maio este ano serão vividas à distância, sem peregrinos.

Menos testes na Páscoa

No fim de semana de Páscoa o número de testes feitos no país diminuiu, voltando a ficar abaixo dos 10 mil depois de um recorde de 12 mil no dia 10. Já esta quarta-feira o boletim da DGS revelou um aumento significativo de análises a aguardar resultados, mais cerca de 1600 do que no dia anterior, com mais de 4000 doentes à espera de saber se eram ou não positivos para a covid-19. Este aumento de casos pendentes poderá significar uma subida dos casos confirmados nos próximos dias e vir mais uma vez baralhar a análise da epidemia. O secretário de Estado da Saúde garantiu ontem que Portugal tem agora um stock de mais de um milhão de testes. “Continuamos empenhados em garantir que os testes chegam onde são mais necessários e a melhorar o tempo de resposta entre colheita e resultados”, disse Lacerda Sales. O país passou esta quarta-feira a barreira dos 18 mil casos e o número de vítimas mortais subiu para 599.No fim de semana de Páscoa o número de testes feitos no país diminuiu, voltando a ficar abaixo dos 10 mil depois de um recorde de 12 mil no dia 10. Já esta quarta-feira o boletim da DGS revelou um aumento significativo de análises a aguardar resultados, mais cerca de 1600 do que no dia anterior, com mais de 4000 doentes à espera de saber se eram ou não positivos para a covid-19. Este aumento de casos pendentes poderá significar uma subida dos casos confirmados nos próximos dias e vir mais uma vez baralhar a análise da epidemia. O secretário de Estado da Saúde garantiu ontem que Portugal tem agora um stock de mais de um milhão de testes. “Continuamos empenhados em garantir que os testes chegam onde são mais necessários e a melhorar o tempo de resposta entre colheita e resultados”, disse Lacerda Sales. O país passou esta quarta-feira a barreira dos 18 mil casos e o número de vítimas mortais subiu para 599.