Um projeto-piloto da Fundação Champalimaud e da Ordem dos Enfermeiros vai fazer uma primeira bateria de testes de imunidade a enfermeiros e assistentes operacionais dos Hospitais de Santa Maria, em Lisboa, e no Santo António, no Porto. Os testes visam perceber se os profissionais tiveram contacto com o vírus da COVID-19 e qual poderá ser o seu grau de proteção para este vírus, anunciou esta sexta-feira a Fundação Champalimaud.
Os testes sorológicos permitem detetar se as pessoas que foram infetadas de forma assintomática, com sintomas muito ligeiros, e que nunca perceberam que estiveram infetadas, têm anticorpos para o coronavírus, ou seja, pessoas que tendo tido contacto com este vírus deverão estar mais protegidas de novas reinfeções, podendo assim retomar a sua atividade com mais confiança, explica a a instituição. "Estes testes revestem-se da maior importância para os profissionais de Saúde, uma vez que estes estão mais expostos ao risco, entre os quais enfermeiros e assistentes operacionais", refere a fundação.
O projeto-piloto abrange numa primeira fase enfermeiros e assistentes operacionais que estão em contacto direto com doentes Covid-19 em dois dos maiores centros hospitalares do país: o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e o Hospital de Santo António, no Porto.
A análise vai ser feita através do método ELISA, uma técnica laboratorial, e os encargos serão suportados nesta fase pela Fundação Champalimaud. No caso do hospital de Santa Maria, prevê-se que sejam recolhidas amostras sanguíneas de 191 Enfermeiros e 136 assistentes operacionais, enquanto no Santo António o estudo abrangerá amostras sanguíneas de 186 Enfermeiros e 154 assistentes operacionais, num total de 667 profissionais, informa a instituição.
À procura dos imunes e do significado da imunidade
Na última semana arrancou também um projeto que pretende testar semanalmente uma amostra de habitantes do concelho de Cascais, numa iniciativa da autarquia para perceber que percentagem da população já esteve exposta ao vírus e desenvolveu anticorpos para a doença, que nesta fase ainda não se sabe se conferem uma imunidade de maior ou menor duração nem a partir de que patamar de valores conferem defesas contra uma reinfecção. Neste projeto estão a ser usados testes rápidos que permitem detetar os anticorpos IgM e IgG, mas não quantificam o nível de proteínas detectado no sangue.
Os laboratórios Joaquim Chaves e Germano de Sousa também já disponibilizam testes de imunidade, mas apenas mediante prescrição médica e a análise, que custa até 50 euros, não é comparticipada pelo SNS. Em ambos os laboratórios é feita uma análise laboratorial.
A DGS e o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge já anunciaram que está a ser preparado um inquérito serológico a nivel nacional mas ainda não tem data para avançar. Uma primeira fase, um projeto-piloto, deverá testar 1700 pessoas e está prevista para o final do mês ou início de maio, disse na semana passado o presidente do INSA, Fernando Almeida.
Atualmente a Organização Mundial de Saúde não recomenda o uso de testes rápidos de imunidade no cuidado a doentes mas encoraja a sua utilização para fins de investigação e vigilância epidemiológica. Vários países estão a trabalhar no desenvolvimento destes testes, considerados uma ferramenta importante para decidir os próximos passos no combate à pandemia. A Alemanha, onde surgiu a proposta de virem a ser conferidos certificados de imunidade para o regresso à normalidade da população que já tivesse tido contacto com a doença, lançou esta semana os primeiros ensaios serológicos a nível populacional, num projeto liderado pelo Instituto Robert Koch. Segundo o Finantial Times, estão planeados três estudos distintos e os primeiros dois deveriam arrancar esta semana: vão testar a cada 14 dias 15 mil dadores de sangue e uma amostra de 2000 pessoas nas zonas do país com mais casos de Covid-19. O terceiro estudo está previsto para maio e pretende testar uma amostra de 15 mil pessoas nas diferentes regiões do país.