As igrejas fecharam portas há cerca de um mês e as comemorações comunitárias estão suspensas devido às restrições implementadas pelo Governo na luta contra o novo coronavírus. Há paróquias em claras dificuldades financeiras de norte a sul do país, até porque existem padres e funcionários que dependem exclusivamente dos rendimentos das paróquias para viver.
E nos Açores, para tentar atenuar os problemas financeiros, a Diocese de Angra do Heroísmo tem vindo a preparar um processo inédito de layoff nas igrejas, mas com contornos iguais àqueles que têm sido implementados em várias empresas.
Ao i, o cónego António Henrique Pereira, ecónomo da Diocese de Angra, confirmou que as receitas sofreram uma quebra abrupta, dado que as pessoas deixaram de poder ir às igrejas por causa da covid-19. “Contactámos as paróquias e aquelas que querem aderir, podem aderir a este layoff. Existem paróquias com grandes dificuldades financeiras. Algumas têm mais facilidades do que outras, mas existem paróquias com uma população muito reduzida que têm ainda mais dificuldades nesta altura que atravessamos. Algumas vão conseguindo cobrir as despesas, até porque foram realizando eventos noutras alturas, mas outras não”, admitiu, explicando que as paróquias açorianas têm como fonte de receita as ofertas e donativos que são feitas pelos fiéis à Igreja.
E foi a pensar maioritariamente nos rendimentos dos funcionários paroquiais de praticamente todas as ilhas dos Açores, bem como no facto de as paróquias fazerem parte do setor social, que esta medida surgiu. “A maior parte dos funcionários paroquiais e padres concorda com esta medida. Encontrámos esta forma de ajudar. É o que temos neste momento. E é a pensar mais nos funcionários paroquiais que queremos adotar esta estratégia”, sublinhou o cónego.
Apesar de implementada esta medida, a celebração da eucaristia não sofre quaisquer alterações, com muitos sacerdotes a optarem pela transmissão das missas através das redes sociais. Além disso, o regime contributivo dos sacerdotes para a Segurança Social enquadra-se nos trabalhadores por conta de outrem. Foi elaborado um parecer submetido à secretaria regional, que acabou por dar feedback positivo para a concretização desta medida.
Plataforma de apoio espiritual
As paróquias do centro da cidade de Lisboa abriram uma linha para apoio social e espiritual, reunindo num único site todas as organizações que estão a trabalhar no terreno. Com o aumento do número de idosos e pessoas sem-abrigo que precisam de ajuda, criaram duas linhas de apoio para auxiliarem a população mais vulnerável. “Os que precisam de assinalar alguma carência social, podem telefonar para o 218879549”, pode ler-se em comunicado, que refere ainda outra linha telefónica para os que necessitem de “apoio espiritual”.
“Também para quem sente a solidão, devido ao distanciamento social, e precise de apoio espiritual poderá telefonar para um dos padres que estará disponível todo o dia”, lê-se na nota divulgada.Os idosos que estão assinalados por cada paróquia recebem também o apoio da Igreja de São Nicolau, situada na Baixa de Lisboa, com bens e ajuda na compra de medicamentos ou outras necessidades. Para assinalar alguns casos de carência, devem contactar as respetivas paróquias.
O site reúne, também, os contactos dos capelães que estão a trabalhar nos hospitais que se encontram na área do centro da cidade de Lisboa, bem como das unidades hospitalares que estão ligadas à Igreja Católica.
O esforço que não passa despercebido e que tem sido notório no centro da cidade é o da Comunidade Vida e Paz. Esta organização católica do Patriarcado de Lisboa dá apoio, neste momento, a mais de 430 pessoas.Apesar de todas estas medidas de apoio, os bispos já começaram a preparar o processo de levantamento de restrições às celebrações religiosas.
O primeiro-ministro, António Costa, recorde-se, reuniu esta semana com o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Manuel Clemente, e já se começou a articular uma estratégia com as autoridades sanitárias para o regresso às missas presenciais.
No entanto, ainda deverá demorar algum tempo, uma vez que é necessário analisar as respetivas particularidades de cada diocese.Atualmente, o que vigora são os decretos de estado de emergência, que limitam a liberdade de culto na sua dimensão coletiva e proíbem a realização de celebrações com grandes aglomerados de pessoas.