A segunda figura do Estado em Portugal acha que é uma estupidez não assinalar com festa e convidados o 25 de Abril.
E é capaz de ter razão. O 25 de Abril foi imensamente arriscado para um punhado de homens das Forças Armadas que jogaram tudo por tudo para acabar com as guerras em África. Logo, que melhor maneira de assinalar este arrojado feito de armas do que tentar imolar a coragem dos bravos de ontem mostrando-se capaz de igualar o desprezo pela segurança, expondo-se de cara levantada ao contágio de um vírus mortal que está a paralisar o mundo inteiro e que, ao certo, ninguém sabe quantos já matou e quantos vai matar.
É de homem. É completamente estúpido, como ele próprio diria. Mas é de homem. Na verdade, é de uma coragem tão cheia de insensatez que talvez consiga com que Ferro apanhe, finalmente, o comboio da história que até aqui o tem iludido deixando-o em apeadeiros sucessivos por nunca haver realmente lugar para ele. Agora talvez haja. Pode ficar na história como o maior contagiador institucional depois de Boris Johnson ou Bolsonaro (sempre segundos lugares).
Este suicidário sketch fará com que Ferro possa vir a ser cantado, não pela imprensa tabloide por uma qualquer infâmia, mas por um bardo da corte, exaltado ao lado de «Albuquerque terribili e Castro forte e outros em quem poder não teve a morte», como diria Camões. Nem a ‘a morte’ nem o corona diria eu. Ferro é assim. Tornou-se no Grande Educador dos ideologicamente indecisos. E disse que não iria com uma máscara sanitária ao aniversário de Abril na Assembleia porque «nunca se mascarou». Interrogado sobre mais esse ato de denodo, disse que havia para aí muitos mascarados que fingiam que gostavam do 25 de Abril, mas não gostavam nada. Não, este homem de ferro não se mascara para não parecer um ‘fascistoide’ da direita mais extrema. Esse grupo de malvados de máscara branca que está a querer dar cabo dos férreos festejos abrilistas por causa de uma simples pandemia que afeta, afinal, apenas, a humanidade inteira.
por Mário Crespo
Jornalista
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