Estudo da Deco concluiu que quase 60% da população passou a ganhar menos

Estudo diz ainda que vaga de desemprego “tem atingido três vezes mais mulheres do que homens”.

Um estudo divulgado, esta segunda-feira, pela Associação de Defesa do Consumidor (Deco), concluiu que desde o início da pandemia em Portugal, 9% dos trabalhadores perderam o emprego, 30% estão parados e 19% viram o seu horário de trabalho diminuir. O inquérito mostra ainda que quase 60% da população ativa está a sofrer redução de rendimentos devido à perda de emprego ou à diminuição do trabalho como consequência da pandemia.

Segundo a Deco, esta vaga de desemprego “tem atingido três vezes mais mulheres do que homens (13% versus 4%). Uma em cada 10 famílias viu, pelo menos, um dos elementos perder o trabalho. Até ao momento, 4% dos agregados têm os dois membros do casal sem atividade profissional”.

“Dos que continuam a trabalhar, três em cada 10 fazem-no sempre a partir de casa e cerca de um quinto labora parcialmente nestas condições – por exemplo, algumas empresas têm equipas rotativas em teletrabalho. A maioria dos teletrabalhadores diz que a nova forma de trabalhar não altera, ou até melhora, os níveis de atividade, bem como o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Contudo, uma percentagem ainda considerável indica que a concentração (38%) e eficiência (37%) diminuíram. Como seria de esperar, a situação agrava-se quando há crianças e jovens em casa”, realça a Deco, em comunicado.

Segundo o mesmo estudo seis em cada 10 inquiridos que coabitam com outras pessoas confirmam ter passado por algumas situações de fricção, sobretudo, devido à partilha de tarefas domésticas ou por estarem no mesmo espaço durante todo o dia. Nos agregados com crianças, o acompanhamento escolar é também foco de conflito, segundo 28% dos inquiridos.

“Apesar das naturais tensões, 45% dos portugueses que coabitam com outros revelam que as restrições à mobilidade tiveram um impacto positivo no relacionamento familiar, sobretudo, em agregados que incluem casais com filhos menores”, diz a associação.

O confinamento teve também impacto na saúde. Seis em cada 10 inquiridos, com destaque para as mulheres, assinalaram que as restrições à mobilidade prejudicam o seu bem-estar psicológico. Uma condição causada também pela situação de incerteza em que vivemos, muitas vezes, associada à redução dos rendimentos. Segundo o inquérito, o medo de contrair covid-19 impediu um quarto dos inquiridos que tiveram um problema grave de saúde de se deslocarem ao hospital, arriscando-se a que a situação evoluísse sem retorno. 

Também a condição física se ressente do confinamento. Neste aspeto, os mais queixosos têm entre 30 e 60 anos. 39% dos portugueses admitiram uma ingestão de maior quantidade de comida.

O estudo concluiu ainda que, durante a pandemia, seis em cada 10 inquiridos afirmam ir menos vezes ao supermercado pessoalmente, sendo que uma boa parte também frequenta menos os mercados tradicionais (49%) e o comércio local (44%).

Segundo a Deco são os mais jovens a quebrar mais vezes o confinamento. “Apenas 6% dos inquiridos afirmam não ter saído de casa uma única vez na última semana. A grande maioria saiu para comprar alimentos, medicamentos ou outros produtos, sendo que quatro em cada 10 o fez mais do que uma vez por semana. Quase metade foi passear ou correr nas redondezas da habitação, conforme previsto nas medidas do estado de emergência, mas 10% saiu da sua área de residência”, começa por referir a associação.

“Os prevaricadores são, sobretudo, os mais jovens, entre os 18 e os 30 anos. Estes são também os que mais contrariam a regra de evitar os contactos sociais: cerca de um quarto confessou ter saído para se encontrar com familiares ou amigos – 12% da população geral teve o mesmo comportamento. Quem vive sozinho também é mais propenso a quebrar o isolamento, arriscando o contágio”, acrescenta.