Apesar de ainda não haver qualquer garantia de quando os hotéis vão abrir portas – está prevista a reabertura faseada das unidades e o melhor cenário será uma retoma já próxima da normalidade em julho, a desinfeção das malas dos clientes, a criação de selo de garantia de “hotel covid-free” e a oferta de máscaras aos clientes no check-in, entre outras medidas –, já há uma certeza: Portugal é dos países europeus onde o turismo internacional mais cai este ano devido à pandemia. A quebra ronda os 40% no número de visitantes, apenas superada por Espanha e Itália, de acordo com estudo da Oxford Economics.
Segundo o mesmo documento, Portugal deverá registar menos sete milhões de entradas internacionais este ano em comparação com 2019 – uma questão que ganha maiores contornos já que somos um dos países onde o produto interno bruto (PIB) mais depende do turismo, num total de 16,5%, segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (CMVT).
Já Itália deverá contar com menos 31 milhões de visitantes (queda de 49%) e Espanha deverá ter menos 34 milhões (recuo de 42%).
O sul da Europa é inclusive a região mais afetada pelo recuo do turismo internacional, caindo ao todo 40% em 2020, após um crescimento de 5% em 2019. E assumindo que a covid-19 afeta o turismo europeu durante oito meses (fevereiro a setembro), entre alturas de confinamento e de levantamentos faseados das restrições, esta entidade estima uma queda de 39% nas viagens de turismo para toda a Europa em 2020, comparando com o período homólogo anterior, o equivalente a menos 287 milhões de chegadas internacionais.
Ainda assim, a Oxford Economics diz que “a duração potencial das proibições de viagem é ainda bastante incerta”, pelo que os números poderão alterar-se e até piorar caso “as restrições de viagens continuem e atinjam o pico da época” turística, isto é, julho e agosto.
O documento prevê, no entanto, uma rápida recuperação em 2021, mas não espera que “os níveis de viagens internacionais registados em 2019 se restabeleçam antes de 2023, uma vez que os efeitos prolongados sobre os rendimentos se repercutem” nos movimentos turísticos.
Injetar verba
Para compensar estas perdas, a European Travel Commission (ETC), entidade europeia de turismo, fez as contas e chegou à conclusão de que o setor do turismo europeu necessite de 375 mil milhões de euros para recuperar da crise gerada pela covid-19 e para restabelecer as suas operações.
“As estimativas da União Europeia [UE] são à volta de 255 mil milhões de euros para ajudar os Estados-membros a recuperar a indústria e mais cerca de 120 mil milhões de euros para investimento extra, para ajudar os empreendedores e operadores a restabelecerem as suas operações”, afirma à Lusa o diretor executivo da ETC, Eduardo Santander.
Com o turismo europeu estagnado devido às medidas restritivas adotadas pelos Estados-membros da UE para tentar conter a propagação da pandemia, incluindo limitações nas viagens entre países, o responsável assinala que “o turismo passou de [uma atividade de] 100% para zero” e está hoje “reduzido a praticamente 10% do que era”, dadas as perdas totais.
“Desde as empresas de cruzeiros, passando por outros operadores e, em particular, pelas companhias aéreas, todos têm enormes perdas, com quedas entre 45% para as transportadoras aéreas – que fazem alguns outros serviços além de passageiros – e os 70% para hotéis e restaurantes”, precisa o responsável espanhol.
Eduardo Santander chama ainda a atenção para situações em que “há agregados familiares que dependem do turismo, de forma direta ou indireta”, dando como exemplo Portugal e Espanha. Daí considerar que esta crise “se reflita num elevado desemprego” no setor a nível europeu.
Medidas para relançar setor
A pensar no relançamento do turismo a curto, médio e longo prazo, a eurodeputada do PSD Cláudia Aguiar enviou uma carta aberta ao ministro da Economia e ao primeiro-ministro com dez medidas para relançar o turismo, na véspera do encontro dos ministros do Turismo europeus.
Como medidas de apoio a curto prazo, a eurodeputada propõe a criação de um selo europeu de certificação de qualidade sanitária e de orientações para os Estados-membros, de forma a transmitir confiança ao consumidor (turista), e a definição de um plano de repatriamento de turistas em caso de novo surto. Propõe também a clarificação em matéria de direitos dos passageiros e das viagens organizadas (clarificação de reembolsos e vouchers) e o apoio financeiro direto aos Estados-membros mais afetados com base no critério do impacto do turismo no produto interno bruto (PIB), para apoiar, entre outros, as medidas de segurança sanitária nos transportes e turismo. Recentrar o financiamento de campanhas promocionais do destino Europa para o mercado interno é outra das medidas propostas na carta aberta.
Em relação às medidas de apoio a médio e longo prazo, é proposto que seja garantido que o novo Quadro Financeiro Plurianual (2021-2027) contemple uma linha de orçamento para o setor, tal como aprovada, e que haja o estabelecimento de um mecanismo permanente de gestão de crises na União Europeia. É ainda sugerida a elaboração da Estratégia Europeia para o Turismo, a cinco anos.
“Em Portugal, o setor do turismo e viagens, em 2019, empregou aproximadamente um milhão de pessoas, ou seja, 18,6% do total de emprego nacional. Só em 2019, o setor representou 23,5% do total de exportações, ou seja, 22 mil milhões de euros”, diz a carta, acrescentando que “infelizmente, esta pandemia permitiu expor inúmeras fragilidades do setor, bem como a falta de resposta europeia coordenada em matéria de boas práticas, linhas de orientação ou apoio direto a empresas em momento de crise a 27 (países)”.