Agora, a estranheza já não nos pede licença. Abandonou os seus modos discretos, e ganhou uma soturna altivez. Não fica ao lado, puxando a manga, pedindo uma moeda ou um minuto da nossa atenção, prometendo que nos fará pasmar. Já não está com os mendigos, mas somos nós que, com um ar um tanto siderado, diante dos seus paraísos (ou infernos) dispersos mastigando-se, buscamos os seus sacramentos. Nesta hora, estamos imensamente sugestionáveis, porque a realidade que dávamos por garantida fez as malas e desapareceu. Tudo o que nos deixou foi um bilhete num tom quase sardónico.
Nesta hora, as garantias de nada nos servem. As nossas armas estão perfeitamente abandonadas. O amanhã volta a parecer-nos um território por conquistar. A rotina nunca nos pareceu tão mesquinha, e, no entanto, o quotidiano (…essa máquina de lavar) parece avariado. Ou estamos sozinhos ou entregues a uma “organização menor da lepra em família” (Mário-Henrique Leiria). Isolados, dedicados a tarefas frágeis, nas “pequenas fábricas do acontecer”. Repomos os stocks da “esperança empacotada”, cozinhamos, comemos, lavamos os pratos, e a sensação é que estamos “todos na panela sem tempero hoje” (ainda do mesmo poema – “Aviso Urgente” – de Mário-Henrique Leiria). Enquanto isso, sabemos que há vítimas nesta história, mas, para a maioria, não chegámos ainda a essa parte. Por agora, estamos semi-despertos, ansiosos, vendo desenrolar-se a chamada “de santos mártires heróis santos efectivos”. A lista é grande. Os textos que nos apalpam, tomam nota dos sintomas, dos sinais vitais nesta forma de histeria controlada, falam-nos “na necessidade urgente de criar novos modelos/ e pô-los em circulação imediata/ antes que a história os recuse”. E vejam lá se não é isso o que se lê “nos textos em que estará a recordação/ de cóleras bancos pestes governos (…) sobras de banquetes bíblicos/ notícias de suicídios/ sexos mutilados cidades afundadas// quando as coisas que hão-de vir/ chegarem”.
Por agora, estamos como a cobaia, numa tragédia que está ainda longe de lhe parecer familiar, e, por isso, os sentidos estão de novo alerta. Se alguns se viram para a poesia, para histórias que coleccionam cartão e reinterpretam as sobras e o lixo como memórias de uma época que nos abandonou há semanas e que, por momentos, nos parece arruinada, outros viram-se para esses fluxos de informação que narcotizam e envenenam, inoculando-os com o vírus paranoico. É nessas esquinas que “a narrativa cai na prostituição”, e vai atrás das obsessões e medos de cada um. Como referia o romancista turco Orhan Pamuk, Nobel da Literatura em 2006, que há quatro anos está embrenhado na escrita de um romance sobre o terceiro surto da peste bubónica que, em 1901, matou milhões de pessoas na Ásia, se a tendência dos governos, no início de uma pandemia, é para entrarem em negação, diluindo os números das vítimas entre outras causas de morte, distorcendo os factos, outra das tendências que sempre se verificam na resposta a estas invasões, que exploram ao limite a nossa incredulidade, é a tendência para, ao despertarem, as populações ficarem propensas a embarcar em todo o tipo de rumores e nas teorias e explicações mais absurdas. Mas Pamuk nota que, se este estupor diante das pandemias do passado era causado pela repercussão de informações falsas e a impossibilidade de ter uma visão mais global do fenómeno, hoje uma pandemia atinge-nos como uma avalanche noticiosa, e o terror tanto pode alimentar-se de mentiras como de verdades. “À medida que vemos os pontinhos vermelhos nos mapas dos nossos países e do mundo a multiplicarem-se, damo-nos conta de que não há para onde fugir. Já nem precisamos da nossa imaginação para começarmos a recear o pior dos cenários. Vemos os vídeos das caravanas de carrinhas militares a transportarem os corpos dos pequenos povoados italianos para crematórios nas imediações como se estivéssemos a assistir à procissão do nosso próprio funeral.”
Agora que estão a ser ensaiadas as primeiras medidas de alívio no regime de quarentena, sempre sob a ameaça de uma nova vaga de contágio que possa reconduzir-nos ao confinamento, é importante pensar nos efeitos a longo prazo desta forma de suspensão da normalidade, e recordar epidemias psíquicas ou nervosas que foram desencadeadas por esta alvorada súbita que lançou o amanhã no reino das incertezas. Numa altura em que “a ruminação se tornou a moeda em circulação nesta nova realidade”, Pamuk, como tantos outros autores, incita-nos a tirar algumas lições de um tempo em que não havia jornais, rádio, televisão ou internet, em que a maioria iletrada estava à mercê da sua imaginação, dependendo desta para se guiar, para tentar lançar algum contorno a uma ameaça invisível, e cujos avisos que servia, muitas vezes, estavam a um respiro da própria destruição e tormento que causava. “Esta fé na imaginação dava aos medos de cada pessoa uma voz individual, e imbuía-a de uma qualidade lírica – localizada, espiritual e mítica”, diz-nos Pamuk.
Neste momento, a quietação nas nossas ruas monta o palco para o desassossego das conjecturas e intrigas que a imaginação é capaz de levar à cena dentro de cada um de nós. Quer queiramos quer não, nos próximos meses e com a sucessão dos surtos do novo coronavírus, iremos mergulhar, divididos em grupos, e suspensos de “arneses oscilantes”, nesta nova, complexa e desoladora realidade. Mas a História pode servir-nos de algum consolo, quanto mais não seja ao lembrar-nos que, mesmo a sul do hemisfério de todas as nossas certezas, na destemida frente das mais longas campanhas, sempre tivemos exploradores e assentadores de colónias. Seja como for, para cada um de nós, enquanto esperamos que os especialistas nos façam chegar as legendas para esta nova realidade, como referiu a romancista norte-americana Karen Russell num ensaio publicado pela The New Yorker, “ainda ninguém sabe como ou quando a pandemia de Covid-19 irá terminar”. E isto quer dizer que fomos reconduzidos a esse território hoje desactivado pela teologia católica, mas que permanece algures no terreno da imaginação: o limbo. E “o limbo é um sítio difícil onde buscar residência”, como nota Russell, adiantando que é também difícil descrever esse lugar feito do que não se sabe a alguém que acabou de ali chegar.
Não desistindo, para já, desse propósito, podemos recuar um pouco mais de 500 anos, e desentranhar um dos mais insólitos capítulos de entre esses acontecimentos que conferem à estranheza todos os meios e recursos para atirar com a razão de volta a um estado de quase hipnose, vagando em espanto entre formulações fantasiosas e meros efeitos de superstição. A 14 de julho de 1518, na cidade de Estrasburgo, uma mulher perdeu de todo o juízo. Desfê-lo em fanicos. Perdeu-o como tantas mulheres ao longo da História, não propriamente num surto de sandice, mas talvez mais por um excesso de razão. E perdeu-o de forma admirável, lendária. Na manhã desse dia, Frau Troffea deu uns passos para fora da sua casa, e como não havia saída, não havia fuga, pôs-se a dançar sobre a calçada. Deixou a residência como quem bate com a porta para estalar alguma aflição, e não precisou de qualquer acompanhamento musical para traduzir numa solitária valsa o seu desespero. Ainda que o marido tenha vindo atrás dela e lhe rogasse insistentemente que se deixasse de figuras, ela continuou ao longo de horas, como quem chama a graça para se libertar de alguma maldição, e logo o céu escureceu e com a noite esta mulher acabou finalmente por colapsar ficando o seu tumulto reduzido a uns tremores e espasmos de exaustão. Mas, com o amanhecer lá estava ela tomada desse fulgor de aparição, com os pés inchados, magoados, pisados pela claridade que dançava com ela, e nem a sede ou a fome a impediam de se queimar naquela fogueira. No terceiro dia, aquele estranho transe criou a sua embaixada de rumores. Por toda a cidade começou a ouvir falar-se da louca que se tinha posto a dançar sozinha na rua, e de entre os vendedores ambulantes, as crianças e os mendigos, peregrinos e padres, foi-se formando uma assistência, que facilmente imaginamos ora inquisitiva e perplexa ora divertida, entre o abanar de cabeça e o comentário jocoso diante desse tão descabido apontamento rítmico para uma música em falta.
Frau Troffea persistiu ao longo de entre quatro a seis dias, dependendo dos diferentes relatos, até que as autoridades decidiram intervir, enfiando-a à força numa carroça que a levou para Saverne, a uns bons quilómetros de distância, para que, na catedral dedicada a São Vito, pudesse recobrar da sua afecção. Acreditava-se que este santo protegia os possessos de um sentido da graça, fossem actores, comediantes, dançarinos. Era a ele que rogavam aqueles que eram afligidos pela epilepsia, por essas maldições que atingiam os espíritos que pareciam ter transbordado. Por esses tempos, contava-se que o santo estaria encolerizado com o ambiente de dissolução que reinava, em que não eram apenas os fiéis que tinham mais propensão pelos vícios que pelas virtudes, mas os próprios padres não se atrapalhavam ao serem vistos a sair dos lupanares. Mais do que temores, havia a expectativa de um ajuste de contas, de uma danação que estaria por vir. Circulavam estórias de pessoas acometidas por estranhas perturbações, almas que podiam ouvir os demónios disputando-as num leilão. Falava-se de pragas em que as vítimas perdiam o controlo dos seus corpos, e era àquele santo que eram devidas libações. Nos insultos, nas pragas que os habitantes de Estrasburgo trocavam, o culto de São Vito recaiu numa espécie de maldição que se desejava a quem quer que desse mostras de mau carácter. “Que Deus te entregue à fúria de São Vito”, era uma frase que se cuspia sobre um inimigo. E havia uma tamanha desconfiança das próprias autoridades eclesiásticas, que muitos dos crentes acreditavam que, caso morressem estariam condenados, isto porque nem os seus baptismos ou outros sacramentos tinham qualquer validade, uma vez que tudo parecia estar mergulhado num clima de profanidade. Esse pessimismo teria evoluído para uma forma de misticismo, o que tornava as pessoas susceptíveis à ideia de que o juízo de São Vito acabaria por se abater sobre elas.
Se as autoridades afastaram a mulher, pondo cobro àquele talismânico desacato, o certo é que houve testemunhas que ficaram de tal forma impressionadas que não deixaram que aquele ritual se perdesse, e entregaram-se a esse fervor, o que levou a que, no espaço de alguns dias, em vez de uma mulher solitária, mais de trinta pessoas estivessem ligadas nesse fio dançante, e algumas tomadas de um tal frémito que só a morte soube convencê-las a parar. Dançavam como se os seus corpos se fossem romper em mil pedaços. As paragens eram decididas pela exaustão, e logo que se recompunham retomavam o seu lugar naquele frenesim. Nas tantas descrições em documentos históricos – sejam crónicas locais, observações médicas ou os sermões com que os curas sempre se refortaleceram como pioneiros da propaganda –, os corpos surgem como vestes pesadas sobre o espírito, corpos que se despem ou descarnam, e em que o suor quase lhes lavava os traços do rosto. O que parecia uma celebração à distância, ao perto entrava em detalhes ominosos. Os olhos vidrados, perdidos numa distância impossível de situar. A dança era o próprio chicote. As roupas cobriam-se de sangue. Era um ritual em que o prazer maníaco estava em desfigurar-se. E, assim, os rumores cativaram todo um caldo de crenças envilecidas, com raízes no sobrenatural. Era preciso apaziguar a raiva divina, e com os dias a transformar-se em semanas, já não eram dezenas mas centenas de pessoas a dançar. Mais de duzentas. E agora era a cidade inteira que parecia estar a resvalar para esse delírio frenético, sem que ninguém soubesse explicar exactamente as suas causas, ou como curá-lo.
Chegamos a este ponto e a narrativa, não fosse pelo aspecto verídico, tem um cheiro a descolado. É aquele ponto em que a realidade pesa mais do que qualquer explicação. E o leitor, sensível mas pragmático, pensa nesses cultos descocados em que o lobo se disfarça de pastor conduzindo o rebanho para o precipício da razão, tendo o cuidado de instruir as ovelhas a tosquiarem-se a si mesmas e deixarem a lã e os restantes bens ao seu cuidado. Nesses estados de transe, o corpo é um trapo a secar ao vento, aliviando-se do sangue negro que o mancha, da dor, da exaustão, do sentido de privação e abuso que a sociedade comete contra o indivíduo. Está explicado: é o ópio e tal. E, contudo, há uma margem de incerteza que persiste, um mistério que, mais de cinco séculos depois, continua a puxar-nos de volta para esse e outros surtos epidémicos difíceis de compreender, e que nos dizem que um vírus ou uma crença são igualmente capazes de nos puxar para uma dança à beira do abismo. De resto, o historiador John Waller, que em 2009 publicou a grande obra de referência sobre a epidemia da dança de 1518, “A Time to Dance, a Time to Die, escolheu abrir o livro com uma citação de H.C. Erik Midelfort, de A History of Madness in Sixteen-Century Germany (1999), em que a prepotência com que encaramos o passado é alvo de um veemente aviso: “Todas as formas de demência do passado não devem ser tomadas como entidades petrificadas que podem ser colhidas dos seus nichos e colocadas debaixo dos nossos microscópios modernos. Elas parecem-se mais, talvez, com medusas que colapsam e secam ao serem removidas da água salgada onde nasceram.”
No período em que a epidemia da dança eclodiu, havia um sentimento de supeita generalizado, uma desconfiança das instituições, a começar pelo clero, bastante permeável a todo o tipo de indiscrições morais, luxos, opulência, e o contágio da hipocrisia em que a linguagem, os apelos, as virtudes propaladas, tudo respira um ar de falsidade. Havia fome, e depois havia esses discursos que nos atravessam com a sensação de miséria profunda que caracteriza o abandono do espírito, da ideia da divindade como última consequência de busca da verdade. O exemplo da pobreza de Cristo era esfregado na cara dos crentes, isto quando famílias inteiras sucumbiam. E depois da morte, ainda tinham de recear pelas suas almas, quando os responsáveis por dar às pessoas os sacramentos não passavam de uns porcos. Que castigo não seria se depois de uma vida miserável ainda fossem condenados ao inferno por esses “condutores de noite aprisionada”.
Mas esta história não acaba assim. A epidemia da dança trouxe uma espécie de reviravolta. O conselho da cidade assumiu a responsabilidade de encontrar uma cura para a maldição. Afinal, Frau Troffea havia recuperado depois de ser levada para as montanhas. Inicialmente, viraram-se para os médicos, que, por esses dias, eram pouco mais do que uma ordem xamânica, com a vantagem de ter muitos associados, beneficiando, portanto, de muitas observações mas, também, sujeita a embarcar nos seus próprios delírios epocais. A opinião dos médicos da região era de que tudo não passava de “sangue excessivamente quente”. Nestes casos a prática mandava que fosse prescrita a sangria dos pacientes, mas, talvez por questões logísticas, deverá ter parecido que a forma mais fácil de lidar com o problema seria incentivar a continuação da dança até que, por efeito de exsudação, a coisa fosse ao lugar. Para o efeito, o conselho pagou a carpinteiros e curtidores para que erguessem palcos temporários nos salões da sua guilda, além de plataformas junto ao mercado e à vista de toda a gente. Ali, os amaldiçoados dançarinos foram até encorajados a prosseguir o seu demente exercício, e para ajudar à recuperação, dezenas de músicos foram pagos para tocarem tamborins e pandeiretas, violinos, flautas… Para lhes dar ânimo, foram até contratados dançarinos para dar alguma cor e harmonia aquela estranha forma de carnificina. A esperança das autoridades era criar as melhores condições para que aquele ritual maldito se esgotasse e diluísse numa cerimónia menos desoladora.
Mas o plano saiu gorado. Pior do que isso agravou ainda mais as coisas. Mais inclinadas para embalar na explicação sobrenatural do que na pobre teoria clínica dos médicos locais, o público caiu naquela espécie de pavoroso encantamento. Também eles queriam esquivar-se à fúria de São Vito, sacrificando-se. Quem muito peca invariavelmente entra pela morte com pele de galinha. Às tantas eram quatrocentas as pessoas a dançar em simultâneo nos palcos distribuídos pela cidade. A conversa do sangue quente já não pegava. E o clero que, até ali, se tinha mantido um tanto à margem, tomando a doença como uma abominação, viu alguns padres saírem da formação para prestar auxílio aos afligidos. Em vez de desconsiderarem os seus delírios, convenceram-nos a calçar uns sapatos vermelhos que haviam sido benzidos e a seguirem-nos numa peregrinação até Saverne e ao mosteiro dedicado a São Vito. Não era uma tarefa simples subir as montanhas num grupo de centenas, muitos seriamente desgastados ao fim de semanas de exercício intenso. Foi organizado um extravagante ritual, como uma serpente avançando por entre uma nuvem de incenso, com as velas como escamas a luzirem ao longe. E esta marcha solene não apenas deu rédeas às pessoas sobre os seus movimentos como sobre o desespero que as tomara. Mas também os padres, empunhando relíquias e imagens religiosas, se deixaram reconverter à fé que pregavam e, assim, a epidemia serviu para devolver a Igreja às pessoas.
A epidemia da dança de Estrasburgo durou mais de um mês, em dias de calor tórrido, entre meados de Julho e finais de Agosto ou início de Setembro. No seu auge, morriam de exaustão ou enfarte, cerca de 15 pessoas por dia. O balanço final de mortos não se conhece, mas basta somar as mortes diárias durante o mês de Agosto para chegarmos às centenas.
Também nós já começámos a endereçar ao vírus algumas orações. Não é que o vírus seja uma manifestação divina, um castigo que se abateu sobre quem dança violentamente, num ritmo cada vez mais acelerado, e que há muito ignora todo o compasso musical, tendo-se incompatibilizado com qualquer harmonia superior que desvele os compassos da unidade da criação. Não é que acreditemos em milagres, simplesmente, a humanidade que nos resta não consegue deixar de se horrorizar com o crime da nossa época, o crime contra as gerações mais novas, as gerações futuras. Este crime de termos embalado numa forma de “niilismo que tragou a realidade inteira, transformando a natureza num cadáver e aniquilando o presente” (Claudio Magris). Não é que o vírus não seja um flagelo, um desastre sem sentido. É que a humanidade não sabe fazer outra coisa, sobretudo em períodos de incerteza, do que organizar a realidade contando-se histórias, lendo os seus sinais, criando paralelos, à luz dos seus mitos e crenças. E o vírus veio sublinhar o que já sabíamos. A imensa ansiedade com que estávamos a viver fica a um passo do desespero absoluto. Depois disso, se não houver um vírus que nos faça parar, seremos nós a conceber um. Uma espécie de milagre do avesso.