‘Vergonha’ de destruir comida vai ser maior

Há mais de um mês que o Exército tem ajudado a distribuir refeições a pessoas que agora têm de optar entre pagar a renda ou a alimentação.  

Com a aproximação do fim do estado de emergência, a 2 de maio, a Refood foi uma das associações que decidiram traçar um novo plano de ação para os mais de 60 núcleos espalhados por todo o país, que envolvem cerca de 7 mil voluntários. O fundador da Refood explicou ao SOL que «o mais direto e mais fácil» é trabalhar com os restaurantes; porém, a partir de agora, a Refood vai traçar um plano que lhe permita tornar a fonte dos alimentos mais diversificada, como eventos, refeitórios ou a grande distribuição. Apesar de já trabalharem com alguns destes setores, Hunter Halder alerta que há ainda muito a fazer, nomeadamente em relação à grande distribuição, que tem agora uma oportunidade para agir no que diz respeito à «destruição sistemática de comida em perfeitas condições». «Daqui a dois ou três meses vai haver tantas pessoas necessitadas que a vergonha de destruir comida em vez de doar vai ser muito mais grave», garante o fundador da organização, que afirma que a única coisa que impede as grandes superfícies de doar é o medo.

Também as câmaras municipais têm vindo a mobilizar recursos para ajudarem na distribuição de comida a pessoas mais necessitadas, tendo, por exemplo, a Câmara Municipal da Amadora disponibilizado cerca de 450 refeições diárias aos alunos mais carenciados. Também a Câmara Municipal de Braga tem vindo a fornecer diariamente cerca de 30 refeições escolares, 100 a cantinas sociais e 300 a instituições.

A pedido da Câmara Municipal de Lisboa, também o Exército tem vindo a ajudar na distribuição de refeições não só a pessoas sem-abrigo como a pessoas que, não estando nessa situação, são também carenciadas, «que têm de optar: ou pagam a renda ou conseguem comprar a alimentação. E há muitas pessoas nessas circunstâncias», diz ao SOL fonte oficial do Exército português. Começaram por ser cerca de 50 refeições distribuídas; porém, consoante o sítio onde são distribuídas, são já 250 ou 350 refeições. Todos os dias, duas equipas do Exército ajudam a distribuir o almoço e o jantar confecionados pela Santa Casa da Misericórdia. No total são distribuídas cerca de 1250 refeições no Largo do Cabeço da Bola e na zona de Santa Apolónia. Desde dia 28 de março foram distribuídas cerca de 30 570 refeições, não estando previsto o fim da distribuição.