Centenas de pessoas juntaram-se esta quarta-feira numa mesquita na Amadora para recolha de bens alimentares e formaram filas intermináveis que obrigaram à intervenção da PSP devido ao incumprimento das normas de distanciamento social, que não estavam a ser cumpridas.
Esta ação de distribuição alimentar, por ocasião do Ramadão – nono mês do calendário islâmico em que é comum serem feitas doações de alimentos – juntou cerca de 200 fiéis da comunidade muçulmana na Avenida Gago Coutinho e provocou o caos, mas, segundo o i apurou, as autoridades policiais conseguiram “disciplinar a situação” e evitar desacatos, apesar de terem ocorrido vários momentos de tensão.
“Isto aconteceu num local de culto islâmico existente na Amadora, por ocasião da distribuição de alimentos que acontece durante o Ramadão. Cerca de 200 fiéis não tiveram respeito pelo distanciamento social. A PSP e a Polícia Municipal da Amadora foram mobilizadas para o local, mas não houve intervenção policial forte, apenas imposição de regras de acesso”, explicou ao i Nuno Carocha, porta-voz da PSP, garantindo que existiram apenas “empurrões” entre os presentes.
Estas ações de distribuição alimentar têm sido recorrentes nas mesquitas do concelho, mas neste caso acabou por existir “falta de articulação” com a Câmara Municipal da Amadora, que foi “apanhada de surpresa”, apesar da “excelente relação” que é mantida com a comunidade muçulmana. Ao i, a câmara municipal adiantou que houve pessoas que vieram mesmo de fora do concelho, dado que tiveram conhecimento da distribuição alimentar através das redes sociais.
“Segundo o que nos foi dito, terá sido passado apenas por boca a boca, além de andar a circular nas redes sociais. Veio também muita gente de fora do concelho. A mesquita fica ao lado da linha de comboio e, portanto, veio muita gente dos concelhos limítrofes. Penso que até eles próprios foram apanhados desprevenidos”, começou por sublinhar, explicando que estas distribuições têm acontecido recentemente com sucesso noutras mesquitas do concelho.
“Acontece sempre em total articulação com a câmara. Mas, de facto, fomos surpreendidos com esta entrega que não foi articulada e que desconhecíamos. Se tivesse sido informada, a câmara teria articulado e, com as entidades da rede social do concelho, teria sido feito outro tipo de distribuição. Esta mesquita em particular não comunicou que o ia fazer”, sublinhou fonte da autarquia.
A Câmara Municipal da Amadora avançou ainda que já contactou a mesquita para que a situação não se repita e para que nas próximas ações de distribuição alimentar não existam transtornos semelhantes. “Já falámos com a mesquita e já explicámos que a haver continuidade deste tipo de entregas, e como a mesquita está fechada por causa do novo coronavírus, terá de ser sempre articulada connosco e que é preciso fazê-lo de forma faseada. E não em condições que não garantam segurança a ninguém”, concluiu.
O Ramadão, recorde-se, é uma das datas mais importantes para os muçulmanos, que até 23 de maio cumprem horários de jejum rigoroso. Neste período, são obrigados a lidar com o sofrimento da privação de alimentos, bem como de ingerir bebidas, fumar ou até mesmo ter relações sexuais. Os pensamentos imorais também têm de ser evitados durante este período.