Já se suspeitava que o isolamento teria de ser apertado e desapertado, como aconteceu nas últimas horas em Seul. As autoridades decidiram fechar outra vez todos os bares e discotecas, depois de dezenas de novas infeções serem relacionadas com um jovem de 29 anos, que frequentou cinco desses estabelecimentos no principal distrito noturno de Seul, Itaewon, no fim-de-semana anterior. A Coreia do Sul foi dos primeiros países a enfrentar a pandemia e a sua resposta foi elogiada, por ser uma das mais eficazes: agora, aumenta o espetro da segunda vaga.
“Parece que o distrito se tornou numa completa cidade fantasma”, queixou-se o dono de um restaurante em Itaewon. “Normalmente isto é suposto ser a hora mais movimentada do dia. Agora, não há um único cliente”, lamentou à Yohnhap, uma agência sul-coreana.
É natural o receio: no domingo o país registou o maior número de novos casos do último mês, com 34 infeções – 26 delas transmitidas domesticamente. “Isto não acabou até acabar”, alertou o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, perante as câmaras.
Até agora, o país mostrou a maior precaução na reabertura, com os meios mais avançados e criativos. Os desportos profissionais, como o basebol, muito popular no país, já regressaram, sem espetadores: em vez disso, caras impressas foram colocadas nas bancadas. O alastrar da pandemia tem sido monitorizado com aplicações e uma extensa análise das cadeias de transmissão.
“Enquanto mantemos um estado de alerta avançado, não podemos nunca baixar a nossa guarda quanto à prevenção de epidemias”, lembrou o Presidente: “Estamos numa guerra prolongada”. Moon Jae-in quer apostar em hospitais e centros especializados em doenças infecciosas, de maneira a que o país se prepare “para a segunda vaga epidémica, que os especialistas preveem que surja no outono ou no inverno”, explicou. Contudo, não ajuda que a quarta maior economia asiática tenha enfrentado a sua maior contração desde 2008 no primeiro trimestre deste ano: as perdas foram “colossais”, descreveu o Presidente.
A população sul-coreana, na sua larga maioria, tem acatado as orientações, com exceção da polémica Igreja Shincheonji, cujas cerimónias religiosas foram apontadas como o início do surto em Daegu, epicentro da pandemia no país. Contudo, a adesão às regras parece estar a diminuir. Em Gangnam, o distrito mais rico da capital, berço do “Gangnam style”, restaurantes continuam apinhados, avançou a agência Yonhap.
“Era suposto irmos a uma discoteca, mas estava fechada, por isso viemos aqui”, contou um homem, sentado num pochas em Gangnam, com os amigos. Nestes bares típicos coreanos, as mesas no interior estavam cheias e muito próximas no último sábado. “Ouvi dizer que houve algumas pessoas a dar positivo ao vírus em Itaewon. Mas não estou preocupado, dado que não foi em Gangnam”, disse o mesmo cliente.