A menos que os sindicalistas e os militantes do PCP gozem de alguma misteriosa ‘blindagem’ que os torne imunes ao coronavírus (algo que seria um ‘objeto de estudo’ para a DGS e ministra da Saúde…), não se percebem as facilidades de que gozam em tempo de pandemia, a ponto de tencionarem repetir, alegremente, a proeza do 1.º de Maio na Festa do Avante! – outra exceção que o primeiro-ministro anunciou ‘assinar de cruz’.
A previsibilidade da política portuguesa começa a ser quase tão contagiosa como o vírus. Após um período de susto e de ruas desertas (durante o qual António Costa soube aparecer sereno, confiante e, até, cuidado na explicitação das medidas adotadas, subindo na consideração do país real), as habilidades paroquiais e o arranjismo entre ‘compadres’ e afins ameaçam regressar em força.
Pior ainda: há governantes que já se ‘soltam’ e deixam vir à superfície o que lhes vai na alma, aproveitando-se da situação para ‘levar a água ao seu moinho’, como acontece com Pedro Nuno Santos – desejoso de renacionalizar a TAP, e para quem a «música agora é outra».
Contudo, este ‘maestro’ – putativo candidato a substituir António Costa na regência da ‘orquestra’ – mostra-se incapaz de pôr ordem na CP, um dos maiores ‘cancros’ do setor empresarial do Estado, com avultados prejuízos crónicos financiados por dinheiro dos contribuintes. É um daqueles sorvedouros em que a gestão ‘em nome do povo’ se limita a ver passar os comboios… quando os há.
A TAP, com gestão privada – e decerto alguns erros evitáveis –, conseguiu alargar a frota com aviões novos, lançou novas rotas e transportou mais passageiros. Por seu lado, a CP, um condomínio público, fechou estações e linhas, além de oferecer comboios envelhecidos, onde os passageiros viajam apinhados em condições precárias, sobretudo nas ligações suburbanas.
Mas o ministro ‘fala grosso’ sobre a TAP no Parlamento e ‘encolhe-se’ em relação à CP, reconhecendo, com um tocante despojamento, que «é muito difícil meter mais comboios, desde logo porque não os temos». Ou seja: não tem solução para o descalabro.
Lembra o estilo de Mário Centeno, que, no Eurogrupo, falava ‘pianinho’ (e mesmo assim já lhe ‘faziam a cama’, antes de Costa e Marcelo lhe ‘tirarem o tapete’…), mas que ‘engrossava’ também a voz no Parlamento, revelando-se tão omisso sobre as cativações a eito como opaco a explicar o ‘lapso de comunicação’ com o primeiro-ministro – que ignorava, supostamente, o ‘timing’ da injeção financeira a favor do Novo Banco, ficando a ‘apanhar papeis’ com o ‘entreato’ do Bloco de Esquerda, e a negar o que já estava feito.
Costa não gostou da ‘bonita figura’ que fez e chamou Centeno à pedra. O ‘Ronaldo das Finanças’ está perder o ‘domínio da bola’, e a cair em desgraça nas hostes socialistas, com Rui Rio a ajudar à festa. Um trambolhão!…
No meio da algazarra, o certo é que a crise sanitária veio aguçar os ‘apetites’ pelas nacionalizações, que tomaram conta do país no ‘Verão quente’ de 1975, quando o PCP e os antecessores do Bloco estiveram à beira de ser ‘donos disto tudo’.
A reabertura gradual da economia, marcada pelas mazelas profundas deixadas pela covid-19 no tecido empresarial, é propícia ao ressurgimento de velhos dogmas nunca eliminados, e ao sonho da estatização da economia.
As normas obrigatórias para qualquer estabelecimento voltar a funcionar são severas, e implicam condições de segurança e restrições incomuns numa vasta panóplia de atividades.
As mais tradicionais feiras e romarias foram adiadas ou canceladas, antecipando pesados prejuízos no comércio local.
O panorama é deprimente. Com a ‘corda na garganta’, sem liquidez, sobram os empresários que se voltam para o Estado como derradeira ‘tábua de salvação’. A austeridade também é isto.
Porém, a Festa do Avante! «é outra música», parafraseando Pedro Nuno Santos… Por isso, António Costa admitiu, candidamente, não desejar comprometer a romaria comunista à Quinta da Atalaia, porque «não nos passa pela cabeça proibir a atividade política»…
Mal se entende, portanto, que Costa tenha anunciado o adiamento, sine die, do Congresso socialista, alegadamente porque «cada um sabe de si».
Claro que não se pode confundir a Quinta da Atalaia com o conclave do PS, nem a romaria da Senhora da Agonia ou a Feira de São Mateus são comparáveis à Festa do Avante!
Esta ‘história da Carochinha’ vale o que vale, mas é exemplar sobre o comportamento dúplice do Governo: vigilância em Fátima, patrulhada pela GNR – não fosse algum intrometido peregrino ‘infiltrar-se’ no recinto do Santuário –, e ‘livre trânsito’ na Quinta da Atalaia ou na Alameda para ‘atividade política’…
A calamidade segue dentro de momentos…