Nirav Modi fugiu da Índia para o Reino Unido há cerca de três anos por ser suspeito de orquestrar a maior lavagem de dinheiro e fraude bancária do país asiático, no valor de 1,5 mil milhões de libras (1,7 mil milhões de euros). Esta semana, foi a julgamento nas terras de Sua Majestade para a ser extraditado, num processo submetido pela Confederação da Indústria Britânica, e a defesa apresentou vídeos que alegadamente provam que o famoso joalheiro ameaçou seis colaboradores de os implicar por roubo e mesmo de morte.
Um grupo de seis homens indianos podem ser ouvidos no dito vídeo exibido no Tribunal de Magistrados em Londres durante o julgamento desta semana. Cada um deles alegou ter sido forçado a sair do Dubai para se deslocar para o Cairo, Egito. Ali, contam que os seus passaportes foram confiscados e qu foram alegadamente foram forçados, pelo irmão de Modi, a assinar documentos dúbios contra a sua vontade. O homem com uma riqueza avaliada acima dos milhares de milhões de euros, segundo a Forbes, é considerado atualmente o criminoso mais procurado na Índia.
«Nirav Modi telefonou-me e disse-me que me implicaria por roubo. Usou os piores palavrões e disse que me ia mandar matar porque tinha feito imenso por nós», disse Ashish Kumar Mohanbhai Lad em hindi, num outro vídeo gravado em 2018, citado pelo Deccan Chronicle.
Foi no Dubai onde Modi alegadamente estabeleceu empresas fantasma – lideradas pelos homens agora ouvidos em tribunal – que eram usadas para a rotação circular de joalharia de pouca qualidade a preços inflacionados para dar a impressão de que estava a exportar, de acordo com o Times of India. As acusações contra o multimilionário, joalheiro de muitas estrelas de Hollywood e Bollywood, vieram na sua fase de ascensão – já era o segundo Modi mais conhecido na Índia (tem o mesmo apelido que o primeiro-ministro, Narendra Modi). Nos últimos anos, modelos e estrelas de cinema como Kate Winslet, Naomi Watts e Rosie Huntington-Whiteley foram vistas a usar as suas extravagantes joias. Modi vinha a estabelecer um império internacional de joalharia, nos oito anos anteriores ao aparecimento das acusações de fraude e lavagem de dinheiro, com lojas em Londres, Nova Iorque, Hong Kong e Macau, vendendo colares e brincos incrustados de diamantes.
Modi roubou a soma estrondosa alegando ser necessária para comprar uma remessa de pérolas – a fraude deu-se com o banco estatal, o Banco Nacional de Punjab. Segundo a acusação do Governo indiano, Modi conspirou com funcionários do Banco Nacional de Punjab para que lhe fossem emitidas garantias às suas empresas sem que passassem pela obrigatória verificação de crédito e sem que fossem registadas, com o objetivo de pedir empréstimos a outros credores.
Mal se levantaram as acusações, o indiano, que fundou a Firestar Diamond, rapidamente fugiu para terras britânicas. Na altura, em 2017, a polícia indiana pediu à Interpol para ajudar a localizá-lo. Mas relativamente ao seu paradeiro acabou por ser o Telegraph a fazer o trabalho da polícia. O jornal encontrou-o em 2019: o comerciante de diamantes encontrava-se a viver num apartamento em Londres, na Centre Point Tower, onde a renda custa cerca de 17 mil libras (19,22 mil euros) mensais, segundo o diário britânico.
Desde que foi preso pela polícia britânica, em março do ano passado, devido às revelações do Telegraph, a Índia pediu a sua extradição por duas vezes. O segundo pedido, realizado este ano, relacionava-se com o «desaparecimento de provas», intimidação de testemunhas e «intimidação criminosa» que poderia causar a morte.
O negócio de diamantes foi uma tradição que Modi herdou da sua família e as joias faziam parte da sua vida diária. Cresceu em Antuérpia, na Bélgica, uma das capitais mundiais do comércio de diamantes, segundo o South Morning China Post. Viajou por toda a Europa com a mãe para visitar museus e assistir a concertos de música clássica em Roma, Bruxelas e Paris. Com esse privilégio, a sua primeira ambição foi tornar-se maestro musical. Mas aos 19 anos mudou-se para a Índia para estudar tudo sobre diamantes e joias na empresa do seu tio.
«Trabalhei quase todos os dias da semana para treinar todos os aspetos de produção de joalharia, desde o fornecimento de pedras e matérias-primas até às verificações finais de qualidade», disse em 2016 ao jornal de Hong Kong: «Vindo de uma linhagem de ourives, os diamantes faziam sempre parte das nossas conversas à mesa de jantar. Ao longo dos anos, os diamantes tornaram-se como uma segunda natureza para mim, por isso, pareceu-me uma progressão natural». Relembrou ainda a sua mãe e o seu gosto por joias. «Usava-as sem qualquer esforço», disse. «A joalharia é uma parte tão intrínseca da cultura indiana que acho que sempre pensei como se fosse uma parte de uma mulher».