Feirantes querem esquecer como é viver com 120 euros por mês

Feiras da Ladra e do Relógio, em Lisboa, reabrem este fim de semana. Ao i, representantes dos vendedores de Lisboa e Porto relatam a aflição vivida desde o encerramento.

Depois de cerca de dois meses “muito complicados” em que estiveram fechadas devido à covid-19, as feiras de norte a sul do país têm vindo a reabrir de forma gradual. Em Lisboa, duas das mais icónicas – a da Ladra e a do Relógio – voltam a acontecer já este fim de semana, a 23 e 24 de maio, respetivamente, mas com restrições determinadas pela câmara municipal.

As regras ainda não estão fechadas, mas algumas muito prováveis foram abordadas esta quinta-feira numa reunião que os feirantes tiveram com o vereador Carlos Castro. A Feira das Galinheiras, por exemplo, também vai reabrir este domingo, 24 de maio. A utilização de máscara é obrigatória por feirantes e clientes. Os vendedores terão de ter desinfetante e um depósito para pôr o lixo. No final do dia, terão de o despejar. O i sabe que o objetivo é que a Polícia Municipal esteja em força a fiscalizar.

Já os vendedores das rulotes das bifanas, e que vendem alimentos, vão também ter de adotar o takeaway – ou seja, os clientes pedem o que querem comer e beber, mas depois têm de circular pela feira. “Não poderão ficar parados”, contou ao i o presidente da Associação de Feirantes do Distrito de Lisboa, José Luís Freitas, que relatou o sofrimento de todos os vendedores nos últimos meses, alguns deles com dificuldades em pôr comida na mesa.

“Foi muito complicado para mim e para os meus colegas. A maior parte das pessoas vivem do rendimento diário que se faz na feira e, uma vez que estivemos parados dois meses e meio, não havia rendimento, apesar de existir um subsídio da Segurança Social que foi uma coisa mínima – depende de cada pessoa e dos descontos de cada uma. Mas sei que houve colegas meus que receberam 60 euros nos 15 dias de março. E em abril, 120 euros, no máximo. Tivemos colegas mesmo a passar mal. A associação até se prontificou a ajudar, caso fosse necessário, no caso de faltarem bens alimentares em casa. E até houve quem solicitasse e nos pedisse algum dinheiro”, confessou.

Hesitação no norte
Cerca de 60% das feiras estarão, ao que tudo indica, prontas a abrir até ao final de maio na região Norte do país, de acordo com o presidente da Associação de Feirantes do Distrito do Porto, Douro e Minho, Artur Andrade. Mas existem municípios que estão a querer empurrar a reabertura de algumas feiras para junho. E é isso mesmo que vai acontecer no Porto. A câmara municipal autorizou esta quinta-feira a reabertura das feiras e mercados só a partir de 1 de junho. Mas, ao i, Artur Andrade adiantou, no entanto, que tudo já está a ser preparado para agilizar da melhor forma este regresso.

“Está numa fase média de reabertura. Temos alguns municípios que estão mais reticentes nesse sentido”, esclareceu, garantindo também que março e abril foram meses devastadores. “Em termos de associação, foi de loucos. Trabalho e mais trabalho, todos os dias até à 1h da madrugada. Quanto aos feirantes, foi uma fase de muita dificuldade. Temos muitas pessoas com carência agravada, porque os apoios que receberam da Segurança Social foram migalhas. Ninguém consegue viver com 100 euros por mês. Temos também alguns feirantes que não vão conseguir trabalhar nesta primeira fase por inércia dos municípios”, reforçou, dizendo que há muitos vendedores a agendar protestos no norte do país, especialmente em Barcelos, cuja reabertura da feira só está marcada para 28 de maio.

Na tentativa de ajudar financeiramente os feirantes, a Câmara do Porto já propôs a isenção do pagamento de taxas municipais, entre 13 de março e 31 de dezembro – um valor estimado em cerca de 131 mil euros.

Normas da DGS
As regras globais implementadas pela Direção-Geral da Saúde (DGS) para todas as feiras e mercados são claras. Se tem por hábito, por exemplo, apalpar a fruta ou, eventualmente, tocar nos produtos, terá de controlar esse impulso, uma vez que é proibido.

Além disso, a utilização de máscara é obrigatória, bem como respeitar uma distância de segurança de dois metros entre os clientes e os feirantes. Por cada banca, não podem estar mais de duas pessoas a fazer as suas compras. Já os vendedores devem ter gel desinfetante ao dispor dos clientes para a sua higienização e também das superfícies. E, no final de cada atendimento, o cliente não pode ir embora sem higienizar novamente as mãos.

Deve ainda evitar ao máximo efetuar o pagamento das compras com notas ou moedas, sendo preferível, sempre que possível, adotar meios tecnológicos para o fazer.

Reabertura de feiras icónicas

Ladra
•  Reabertura a 23 de maio
•  Utilização obrigatória de máscara
•  Vendedores obrigados a ter gel desinfetante nas bancas
•  Obrigatório cada feirante ter um depósito para pôr o lixo
•  Vendedores de produtos alimentares em rulotes obrigados a adotar o serviço de takeaway
•  Fiscalização da Polícia Municipal
 
Relógio
•  Reabertura a 24 de maio
•  Utilização obrigatória de máscara
•  Vendedores obrigados a ter gel desinfetante nas bancas
•  Obrigatório cada feirante ter um depósito para pôr o lixo
•  Vendedores de produtos alimentares em rulotes obrigados a adotar o serviço de takeaway
•  Fiscalização da Polícia Municipal
 
Carcavelos
•  Reabertura a 21 de maio
•  Utilização obrigatória de máscara
•  Metade da lotação, com um total de 120 feirantes
•  Número máximo de dois feirantes e de quatro clientes por banca
•  Higienização frequente  das mãos
•  Limpeza voluntária do espaço por parte dos feirantes ao final do dia
 
Vila Nova de Gaia
•  Reabertura da Feira dos Carvalhos a 20 de maio, depois de dois meses encerrada
•  Utilização obrigatória de máscara
•  Higienização aos clientes  à entrada da feira
•  Fiscalização de elementos da Polícia Municipal à entrada
 
Gondomar
•  Reabertura a 21 de maio
•  Utilização obrigatória de máscara
•  Feira reabriu com 200 vendedores
•  Limite de ocupação  de 650 pessoas
 
Braga
•  Reabertura da feira  semanal a 19 de maio
•  Utilização obrigatória  de máscara
•  Higienização das mãos com gel desinfetante
•  Clientes proibidos de tocar nos produtos expostos