Os jacarandás não eram de Lisboa ou de Portugal. Tal como muitas outras espécies, vieram de várias partes do mundo por onde os portugueses passaram. O jacaranda mimosifolia ou jacaranda rotundifólia (caso raro de espécie com duas designações científicas), da família Bignoniaceae, tem origem na América do Sul (sul do Brasil, Argentina e Bolívia) e foi trazido para Lisboa, apenas no século XIX, para o Jardim Botânico da Ajuda.
Uma espécie exótica, originária de uma zona com condições naturais muito distintas, recente em Portugal, mas que se adaptou ao nosso clima e rapidamente se espalhou pelas ruas de Lisboa, caracterizando a cidade nos meses de maio e junho com as suas flores azul-violeta (por vezes tem uma segunda floração nos meses de setembro e outubro), anunciando a chegada do Verão e que se tornou um símbolo de Lisboa – parte da identidade da cidade.
Nesta época do ano há ruas de Lisboa que se transfiguram e ganham cor, vida e beleza: entre muitas outras, a Avenida D. Carlos I, a Rua Castilho, o Rossio, a Avenida 5 de Outubro, a Avenida da Torre de Belém, a Alameda dos Oceanos e jardins como o Parque Eduardo VII, o jardim do Marquês de Marialva (Campo Pequeno) ou o Jardim dos Jacarandás.
Lisboa fica exuberante com os jacarandás em flor, as ruas ficam mais belas e convidam à contemplação. Claro que têm inconvenientes: sujam os carros e os lindíssimos tapetes de flores que cobrem o chão são pegajosos e escorregadios. Ainda assim, ninguém fica indiferente à beleza ímpar destas árvores que supera todos os inconvenientes.
As árvores revestem-se de especial e múltipla importância nas cidades. O conforto que proporcionam pela beleza, sombra, amenização da temperatura ou proteção do vento e também os benefícios ambientais que oferecem através da retenção de gases e partículas poluentes, aumento da humidade, redução do ruído, entre outras vantagens.
Mas as espécies de árvores usadas em meio urbano devem ser escolhidas em função dos objetivos e das características e usos dos locais em que se plantam. Em Lisboa continua a verificar-se a utilização de espécies de árvores para alinhamento em ruas que são, por vezes, desadequadas e provocam desconforto e impopularidade. É este critério de seleção que deve ser aumentado, tal como o empenho em preencher as muitas caldeiras sem árvores que se observam na cidade.
Os jacarandás, em particular, postal de Lisboa, adequam-se a espaços que evitem os transtornos conhecidos. Bons exemplos da sua utilização são, por exemplo, o separador central da Avenida Fontes Pereira de Melo (com a feliz decisão de ser dada continuidade à plantação de jacarandás que eu próprio iniciei há alguns anos naquela avenida) ou da Alameda dos Oceanos, bem como o Parque Eduardo VII, junto ao Marquês de Pombal.
Eugénio de Andrade dedicou um poema Aos Jacarandás de Lisboa:
São eles que anunciam o verão.
Não sei doutra glória, doutro
paraíso: à sua entrada os jacarandás
estão em flor, um de cada lado.
E um sorriso, tranquila morada,
à minha espera.
O espaço a toda a roda
multiplica os seus espelhos, abre
varandas para o mar.
É como nos sonhos mais pueris:
posso voar quase rente
às nuvens altas – irmão dos pássaros –,
perder-me no ar.