Mais uma vez, choveu gás lacrimogéneo, disparos de canhões de água e balas de borracha sobre manifestantes em Hong Kong. Já não não se viam protestos das dimensões dos de domingo há meses – tinham sido parcialmente paralisados pela pandemia de covid-19. Contudo, mesmo após o Governo regional abdicar da sua polémica lei da extradição. os protestos têm tudo para regressar em força, com a China a pressionar a aprovação de uma nova lei de segurança, que pode permitir penalizar a traição, os apelos à secessão, a sedição e subversão contra o Governo central. Para os opositores do projeto, seria a certidão de óbito de qualquer autonomia da região administrativa especial de Hong Kong.
Os protestos de domingo, quando milhares de pessoas marcharam com máscaras e bandeiras, através de Causeway Bay, uma área dedicado ao comércio, e de Wan Cha, o principal bairro da noite, foram vistos como um teste à resposta da polícia, quando confrontada com grandes ajuntamentos em tempos de covid-19. A reação foi dura e rápida, acabando por ser detidas pelo menos 120 pessoas.
“Estou preocupada que depois da implementação da lei de segurança nacional vão atrás dos que foram acusados antes. E que a polícia fique ainda mais fora de controlo”, explicou Twinnie, uma estudante do ensino secundário, com 16 anos. “Tenho medo de ser presa, mas ainda assim preciso de sair à rua e protestar pelo futuro de Hong Kong”, explicou à Reuters.
Alguns slogans dos manifestantes que sairam à rua este domingo eram velhos clássicos. Outros slogans eram novos, como os gritos de “independência de Hong, a única saída”, indicando uma radicalização nas exigências, à medida que Pequim aumenta a pressão sobre a cidade – cujo estatuo de autonomia, o chamado “um país, dois sistemas”, expira em 2047.
Entretanto, as críticas à nova lei de segurança nacional aumentam no resto do mundo – com os Estados Unidos a ameaçar sancionar a China caso avance com a lei. “Eles basicamente vão tomar Hong Kong”, avisou Robert O’Brien, conselheiro Nacional de Segurança norte-americano, à televisão NBC. Já Pequim acusou Washington de interferência no seu território, acusando-os de “fazer das relações China-EUA reféns”, e de querer provocar uma “nova Guerra Fria”.