Pode ser a decisão mais difícil que o Governo tem de tomar esta sexta-feira em conselho de ministros: autoriza, ou não, a abertura de todos os centros comerciais da região de Lisboa e Vale do Tejo, leia-se distritos de Lisboa e Setúbal. A reflexão e a ponderação foi sinalizada pelo primeiro-ministro na sétima reunião com epidemiologistas no Infarmed sobre a covid-19, já no final do encontro. António Costa colocou-se perante duas hipóteses: ou deixa tudo fechado ou permite a abertura de todos., apurou o i. A reabertura de centros comerciais, recorde-se, está prevista para 1 de junho.
O contexto da resposta teve por base a situação preocupante na região de Lisboa e Vale do Tejo com uma taxa de contágio – o famoso R– nos 1,01, quando o resto do País está com uma média 0,99. Os vários focos em alguns concelhos da Grande Lisboa, devidamente identificados, permitiram ao Presidente da República dizer aos portugueses que “não há uma situação de descontrolo na região de Lisboa e Vale do Tejo, mas há preocupação”.
De facto, nesta zona do País, mantém-se uma curva de infetados em planalto, enquanto nas zonas do Norte e Centro ou no Sul, os números permitem fazer um retrato globalmente positivo para se avançar com uma nova fase de desconfinamento. Porém, na região de Lisboa e Vale do Tejo existem vários surtos em vários concelhos, com números que podem pesar para a média nacional a curto e a médio prazo e complicar as contas no final para a tão necessária retoma económica.
Nesta fase, os contágios em algumas zonas incidem, sobretudo, em população jovem e ativa,– uma parte significativa assintomática ou com sintomas ligeiros– que não colocam, para já, pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde. As cadeias de transmissão estão também identificadas. Mas, se um desconfinamento mais generalizado levar a contágios junto da população de risco, leia-se idosos? E o que fazer com alguns centros comerciais? Estas perguntas foram feitas pelos deputados Ricardo Baptista Leite, do PSD, e pelo vice-presidente do CDS, António Carlos Monteiro.
Na resposta, no final do encontro, António Costa assinalou esta quinta-feira que não poderia permitir a abertura de alguns centros comerciais e manter fechados outros, segundo informações recolhidas pelo i.
O contexto desta análise tinha por base a informação prestada por especialistas presentes no encontro. Se o Governo não autorizar a abertura de um centro comercial, as pessoas podem deslocar-se a outro mais próximo que esteja de portas abertas, deslocando, apenas, o risco de contágio de um centro comercial para outro.
Assim, o Executivo decidirá esta sexta-feira se isola a zona da grande Lisboa, ou não, no que toca a reabertura de centros comerciais. Costa não desvendou para que lado mais se inclinava. Mas disse que iria “ponderar”, a situação, conforme explicou aos jornalistas Ricardo Baptista Leite, deputado do PSD, acrescentando que Costa não foi “taxativo”.
O mesmo deputado acrescentou que os profissionais da saúde pública de Lisboa e Vale do Tejo estão esgotados e que foi usada a expressão “fliparam” por especialistas dentro da reunião à porta fechada. Mais, o deputado, que também é médico, avisou que é expectável que, nos próximos dias, o número de internados na região de Lisboa e Vale do Tejo aumente. E há concelhos que requerem particular atenção, a saber, Amadora, Loures, Odivelas, Barreiro ou Azambuja.
O PS, pela voz de José Luís Carneiro, defendeu que a “primeira avaliação dos dados de desconfinamento é positiva”, o que permite avançar para a próxima fase com confiança.
Tanto Moisés Ferreira, do Bloco de Esquerda, como Jerónimo de Sousa, do PCP, defenderam que os focos e surtos na Grande Lisboa resultam de condições sócio-económicas e que são necessárias medidas de apoio para a prevenção e o ataque às causas, como por exemplo, as condições de habitação e a precariedade dos trabalhos. O PEV também alertou que quem tem menor rendimentos não consegue ter as mesmas condições de proteção para a covid-19.
Já o CDS, pela voz de António Carlos Monteiro, insistiu que “as verbas que agora estão a ser negociadas no âmbito da União Europeia, devem ser canalizadas também para as empresas poderem fazer face” às dificuldades.
Por seu turno, Inês Sousa Real, do PAN, avisou que vai exigir um reforço do Serviço Nacional de Saúde no Orçamento Suplementar: “É evidente que o SNS tem que sair reforçado desta crise sanitária”.
Do lado da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo, saiu do encontro mais preocupado porque “ não se sabe exatamente por que é que Lisboa é a única região do país que não está a descer os casos”. E André Ventura, do CHEGA, reconheceu que o caso de Lisboa “não terá uma solução fácil, não só em matéria de contenção da disseminação do vírus, mas também do ponto de vista do impacto que o vírus tem na própria comunidade”.
No final do encontro, Marcelo Rebelo de Sousa deixou perguntas aos especialistas sobre a aplicação que permite saber se uma pessoa esteve em contacto com alguém infetado e quis saber a sua avaliação sobre a reabertura de fronteiras, apurou o i. As explicações serão dadas na próxima reunião, no dia 8 de junho.