Presidenciais. CDS “está na retranca” à espera da clarificação de Marcelo

Rodrigues dos Santos não descarta apoio ao Presidente. Alianças com Chega só se acabarem discursos de ódio.

O presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, não descartou ontem o cenário de um apoio a Marcelo Rebelo de Sousa para um novo mandato. Mas o processo de decisão no partido não arrancou, os centristas não têm visto com bons olhos algumas das posições do chefe de Estado e a ordem é para devolver a bola para o outro lado e esgotar prazos.

A estratégia é simples: primeiro, que se apresentem todos os candidatos presidenciais. Depois, o CDS decidirá. Foi esta a mensagem, em traços largos, que o presidente democrata-cristão quis deixar ontem, numa entrevista à TSF. E a expressão utilizada para descrever o estado de espírito de Francisco Rodrigues dos Santos não poderia ser mais ilustrativa: “Eu, neste momento, estou na retranca. Estou à espera que haja uma clarificação de cenários. Quero saber se o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa é ou não candidato. Como sabe, as eleições presidenciais pressupõem uma declaração individual que não depende dos partidos (…) Gostaríamos que os candidatos se apresentassem para depois reunirmos o órgão máximo do partido entre congressos e tomarmos uma decisão depois dessa clarificação de cenário que, neste momento, é bastante prematura”. A declaração de Francisco Rodrigues dos Santos serviu para dar o recado de que o partido pode mesmo ser dos últimos a tomar posição pública sobre um candidato (ou recandidato) a Belém.

Mais à frente, questionado sobre a hipótese de um apoio a Mesquita Nunes, ex-vice-presidente do CDS, Rodrigues dos Santos fez o discurso institucional: “Até saber se Adolfo Mesquita Nunes quer ser candidato não poderei sequer formular um juízo porque essa declaração de vontade dependerá em primeira instância dele próprio”. Mas acrescentou: “Gostava que todos os militantes do CDS tivessem liberdade para se apresentar”.

Entre centristas há quem defenda que seria útil ao centro-direita e à direita ter alguém como Basílio Horta, mesmo que se repita a história de 1991. Basílio Horta, recorde-se, concorreu contra Mário Soares, então Presidente da República, quando o fundador do PS concorreu a um segundo mandato presidencial. A ideia foi admitida na semana passada pelo eurodeputado Nuno Melo, num debate organizado pela sua distrital (a distrital do CDS de Braga), Na altura, Nuno Melo não falou de nomes.

Na referida entrevista, o líder do CDS também não quis fazer uma avaliação sobre o presidente húngaro Viktor Órban, designadamente a sua expulsão do PPE (a família política europeia do CDS), o que lhe valeu um rol de críticas nas redes sociais. O mesmo aconteceu quando defendeu que existe “marxismo cultural” no país.

O presidente do CDS foi ainda confrontado sobre o Chega, as sondagens e eventuais alianças. Aí, Francisco Rodrigues dos Santos avisou que eventuais alianças, designadamente, nas eleições autárquicas, implicarão sempre um caderno de encargos. E há linhas vermelhas, como o repúdio ao discurso do ódio.

“(…)Depende das nossas linhas vermelhas, depende das políticas concretas a avaliar localmente. O CDS é um partido democrata-cristão que tem valores firmes que são inegociáveis. Se a ideia é transformar o CDS num partido de protesto, que tenha um discurso de ódio, que coloque uma sociedade contra parte de si mesma, que se opte por um populismo agressivo, que semeie o medo e as fraturas sociais, o CDS não vai para esse discurso, como é óbvio”, declarou o presidente democrata-cristão. Contudo, o líder do CDS insistiu que estará disponível para plataformas de entendimento à direita (“seja com o PSD, com a Iniciativa Liberal ou com o Chega”) que respeitem os valores do partido e que recusem a castração química, confinamento de ciganos ou prisão perpétua. Ou seja, ideias que já foram admitidas ou preconizadas por André Ventura, presidente do CHEGA. Numa primeira reação, na rede social Facebook, Ventura fez um comentário humorístico às declarações de Francisco Rodrigues dos Santos: “Comece o dia com emoção, Comece o dia Com piadas do Chicão”.

Mais tarde num comentário enviado ao i, André Ventura reagiu ao presidente do CDS: “É ridículo que o CDS imponha qualquer linha vermelha ao Chega sobre coligações. Nós já tínhamos deixado claro que não seremos muleta do PSD, seja qual for o contexto político partidário, mas parece que o CDS continua disponível para esse papel”.

Para o presidente do Chega não há espaço para coligações ou alianças sem uma reforma da Justiça: “Não vou fazer juízos de prognose, mas sem a reforma da justiça que propomos, o Chega não fará coligações com ninguém. Por isso sim, será muito difícil chegar a esse ponto de consenso”.