Quando pensamos na nossa realidade atual e no desconfinamento que vai sendo feito um pouco por todo o mundo, e também no nosso país, de acordo com o contexto de cada um deles, há uma palavra que domina este novo normal: medo.
Ainda que sejam muitos os registos e formas de encarar este vírus o medo é transversal à sociedade e sente-se no ar, nas conversas, nos comportamentos.
Numa primeira instância o medo pela questão da saúde, que é primordial, depois o medo pela economia, pelos meus rendimentos, o meu estilo de vida, a minha capacidade de sobrevivência e um medo mais social ou individual que se reflete nos nossos convívios, afetos, atividades e contactos. O medo do impacto que tudo isto vai ter na nossa vida, na nossa sanidade, nas nossas relações.
E se já percebemos que vamos ter de enfrentar este medo e aprender a viver com ele, porque a vida não pode parar, também aprendemos que ele não vai desaparecer de um dia para o outro.
É no meio destas resistências, de novos normais e de novos comportamentos que as marcas têm de se movimentar.
E o medo também as invade.
Medo de serem muito conservadoras, medo de serem arrojadas e mal interpretadas, medo de investir, medo de desinvestir, medo de falar, medo que o silêncio as faça desaparecer, medo que o que hoje vendem e pregam, amanhã não seja real.
Mas também elas, como nós, têm que avançar. Não diria sem medos, mas com coragem e com um plano concreto e suficientemente flexível para que se vá adaptando a um mundo que guarda tanto desconhecido ainda.
Muitas vezes é exatamente o medo que puxa pela nossa criatividade e pela vontade de fazer diferente.
O medo não nos pode paralisar e as marcas têm dado prova disso nas campanhas que orgulhosamente foram colocando no ar, quer fossem mais focadas na covid ou não, mas sempre procurando garantir a relevância e a pertinência no momento atual.
E se as pessoas estão com mais medo, as marcas podem ter aqui um importante papel na confiança e solidez que podem passar, mostrando que continuam a fazer o seu trabalho, escolhendo caminhos de responsabilidade social que os aproximem da comunidade e levando mais longe o seu papel na vida de cada um. Nunca como agora fez tanto sentido o conceito de love brand, não no conceito inexplicável do amor, mas numa vida cheia de sentido e foco no que vivemos. No real, na expectativa e no que podemos todos juntos melhorar.
Assim, marcas, agências, meios e consumidores, com mais ou menos medo, devem unir-se nesta vontade única de realização, de futuro e de esperança.
Porque só assim aprenderemos a viver com o corona e com o medo num mundo que cada vez mais precisa de nós.
*Diretora Criativa Havas Sports& Entertainment