Foi condição para o êxito, foi esteio, foi vencedor.
Ao Partido Socialista faltava uma experiência assim, depois das tentativas goradas ou insuficientes de Campos e Cunha e Sousa Franco.
Porque a verdade é que, para além de se impor aos de fora, exigiu e garantiu um caminho duro para dentro.
Não era hábito o controle da despesa e o rigor orçamental.
Os governos socialistas eram conhecidos como refratários a estes princípios.
Pois bem, a história mudou.
E o que é ainda mais extraordinário é que calou e converteu toda a esquerda envolvida.
Protestavam, certamente, ensaiavam ao espelho os discursos da oposição, mas derretiam-se como manteiga ao canto do ministro.
Foi como se Centeno os tivesse encerrado na caverna de Platão.
A realidade à qual se rendiam era a dos orçamentos que ajudaram a aprovar, razoavelmente felizes nas grilhetas das cativações e nas outras gentis formas de aumentar a receita fiscal.
Era fácil, o fantasma a que todos fugiam era o de uma dureza maior do ogre da direita.
Presos ficaram e, apesar de tudo, contentes.
E, todavia, sendo de esquerda, o ministro era um homem às direitas.
A festa maior foi quando ele vergou a Europa às suas convicções.
Aqui chegados, a cereja foi serem criadas as condições para o excedente orçamental.
Parecia tudo tão fácil…
Feito o trabalho duro, podia o ministro sair.
Ora, o que se não compreendeu foi o que sucedeu então.
Integrou as listas do Partido Socialista, sem especial destaque.
E, garantidas as condições para a formação do novo Governo, é mais visível o afastamento.
Desce na hierarquia do Governo. Perde-se num quarto lugar.
Sendo outra vez ministro, a coroa de glória do excedente parece feita de espinhos.
Não aconteceu apenas a catadupa de notícias sobre a sua saída, adivinhou-se um crescente mal estar, um afastamento do primeiro-ministro.
Os mais recentes acontecimentos só o sublinham.
De tal maneira que, quando surge nas imagens à porta de S. Bento dançando a valsa dos sorrisos falsos a caminho do carro, se percebeu logo que nada voltaria a ser como dantes.
Portanto, caberá à história esclarecer o que se passou, realmente, entre ambos.
Tudo isto, o que quer que seja, aconteceu muito antes da pandemia e da crise nos atingir.
Hoje, a situação é bem mais complexa.
Ainda não acabámos de resolver o problema dos bancos, o destino empurra-nos para todas as desgraças que nos aconteceram já: PIB a cair, défice a aumentar, dívida em crescendo.
Leão, o verdadeiro rosto da disciplina orçamental vai ocupar-se agora das Finanças.
É pouco, não chega.
Um outro António Costa, desta vez um Silva, é levantado do chão.
Adivinha-se que encara o seu papel com o entusiasmo e o conforto de quem, estando prestes a ser fuzilado, ouve os tiros e não sente as balas.
Os partidos apoiantes emudecem porque não sabem o que dizer.
O maior partido da oposição oferece ideias.
A União promete.
O país, tal como está, não aguenta.
O que produz não se compra, o que tem não se procura.
Chegou a hora da revolução da economia.
Inventemos, pois, neste, um outro.