Depois de dezenas de soldados indianos e chineses terem morrido em confrontos numa ravina nos Himalaias, esta segunda-feira, enfrentando-se com pedras e mocas com pregos, Nova Deli e Pequim estão num impasse. Apesar de terem cumprido a velha regra de não haver tiros na fronteira, ouvem-se gritos de vingança de ambos os lados, entre duas potências nucleares.
“O meu marido costumava comparar as brigas com soldados chineses como lutas entre rapazes na escola”, contou Neha Ojha, mulher de Kundan, um dos vinte indianos mortos na disputada Caxemira. Do lado chinês não há dados números oficiais, mas a imprensa indiana fala em 43 vítimas. À semelhança de Kundan – que dias antes se rira da ideia de chamar Branca de Neve à filha, por ter nascido quando patrulhava os gelados Himalaias – nunca mais regressarão a casa.
“Errámos em confiar nos chineses… eles devem ser punidos”, disse Ojha à Reuters, devastada. A sua voz, como a das outras famílias que enterraram os seus entes queridos nos últimos dias, complica a tarefa do Governo nacionalista hindu de Narendra Modi.
Por um lado, Modi sempre se baseou na imagem de homem forte, duro contra o inimigo externo; por outro, precisa de evitar um conflito bélico de consequências imprevisíveis. E a tensão vai aumentando: por toda a Índia queimam-se efígies do Presidente Xi Jinping, ou destroem-se aparelhos eletrónicos de fabrico chinês.
Enquanto Nova Deli avança para uma guerra comercial, aumentando as tarifas em bens importados da China, ao mesmo tempo que envia tropas para a fronteira, Pequim mostra que também está preparado para tudo. Aliás, divulgou vídeos de exercícios militares perto do vale de Galwan, com uns sete mil soldados, artilharia e snipers. “O fosso entre as nossas forças é claro”, gabou-se o jornal chinês Global Times. Já a revista indiana Bharat Shakti questionava: “Estará a China a sobrestimar a sua força?”.