por Carlos Diogo Santos e Felícia Cabrita
Arrancou na manhã de ontem uma mega operação de buscas que continua hoje. No Porto os meios empenhados são hoje maiores. Mais de uma centena de inspetores estão a levar a cabo as diligências em Lisboa e no Porto, cidade onde fica a sede da EFACEC. As buscas estão a ser presididas pelo juiz Carlos Alexandre. Em causa, como o SOL revelou ontem, está a investigação das autoridades portuguesas à empresária angolana Isabel dos Santos, filha do antigo presidente angolano. Ontem, o escritório Uría Menendez- Proença de Carvalho terá sido um dos alvos, por ser a sociedade onde trabalhava Jorge Brito Pereira (advogado de Isabel dos Santos) até ao início deste ano.
Ao que o SOL apurou, a equipa do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) investiga nestes processos eventuais crimes de branqueamento de capitais relacionados com movimentos financeiros comunicados recentemente por alguns bancos, nomeadamente do próprio EuroBic e os levantamentos de dinheiro da conta bancária da Sonangol na mesma instituição financeira, em novembro de 2017, pelo gestor de conta de Isabel dos Santos.
Recorde-se que aquando da saída de Isabel dos Santos da Sonangol, em apenas 15 dias (entre 2 e 17 de novembro de 2017), foram retirados 73 milhões de dólares da conta da petrolífera pública naquele banco, por ordem de Nuno Ribeiro da Cunha (então diretor do Private Banking do Eurobic e gestor de conta de Isabel dos Santos, que se suicidou em finais de janeiro, após a revelação do caso Luanda Leaks).
Para conduzir estas investigações foi constituída uma task force de magistrados liderada por Rosário Teixeira – que está passar a pente fino todos os investimentos da empresária angolana e as informações enviadas pela Procuradoria-Geral de Angola, além do que foi revelado no chamado Luanda Leaks.
Isabel dos Santos deixa escritórios de Lisboa
Depois das primeiras notícias a dar conta de que a empresária havia deixado de pagar rendas e salários, devido aos bloqueios de contas, nos últimos dias ficou a saber-se que Isabel dos Santos fechara mesmo os escritórios da Fidequity e da Santoro Finantial na capital portuguesa, despedindo dezenas de pessoas.
Também terça-feira, ao fim do dia, foi anunciado pelo banco EuroBic que, não obstante terem falhado as negociações com o Abanca, Isabel dos Santos se mantém interessada em vender a sua parte.
"Isabel dos Santos informou que continua disponível para alienar as suas participações indiretas representativas de 42,5% no capital do EuroBic, e os restantes acionistas, titulares de 57,5% do capital do banco, informaram que mantêm em aberto todas as hipóteses de reconfiguração da estrutura acionista do banco, quer através da aquisição das participações indiretamente detidas pela Senhora Engª Isabel dos Santos, quer através da venda, por justo valor, das suas ações, total ou parcialmente a terceiros", esclareceu a instituição em comunicado.
O arresto em Portugal do processo angolano
Como o jornal i revelou em Março, o juiz Carlos Alexandre determinou o arresto de todos os bens da empresária Isabel dos Santos em Portugal, no âmbito do processo que corre na Justiça de Angola. A decisão foi tomada no cumprimento de um acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa – os juízes desembargadores da 9.ª secção daquele tribunal consideraram que o juiz João Bártolo, do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, não deveria ter optado inicialmente por uma apreensão dos bens, mas sim pelo cumprimento do arresto nos termos em que este foi pedido pela Procuradoria-Geral da República daquele país africano.
O arresto ordenado pelo Tribunal Central de Instrução Criminal visou todo o património da filha de José Eduardo dos Santos em Portugal – casas, contas bancárias e empresas. As autoridades angolanas fizeram saber que pretendem recuperar no âmbito desse processo mais de mil milhões de euros.