IPO de Lisboa preocupado com violação de regras

Doente infetado no serviço de hematologia, onde há 30 casos confirmados, partilhou no passado domingo uma fotografia ao lado de auxiliares, sem máscara nem distância alguma.

O surto detetado esta semana no IPO de Lisboa é já o maior registado desde o início da epidemia nos hospitais. Até ontem estavam detetados 30 casos de infeção associados ao serviço de hematologia, 13 profissionais de saúde e 17 doentes. No briefing diário, a diretora-geral da Saúde garantiu que o surto está controlado, elogiando o plano de contingência do hospital. «O IPO tem um excelente plano de contingência que testa regularmente profissionais, prestadores de serviços e utentes. Ao longo de todo este tempo, isso permitiu detetar 88 casos e controlar as situações, tal como se passa com esta», disse Graça Freitas. Já depois dos esclarecimentos iniciais e questionada pelos jornalistas, a ministra da Saúde confirmou que um dos doentes infetados no serviço faleceu esta sexta-feira no hospital para onde tinha sido transferido. Também o hospital confirmou a morte em comunicado, indicando que se tratava de um doente com doença avançada e múltiplas complicações prévias. O IPO adiantou que a maioria dos doentes infetados, todos transferidos para outros hospitais da grande Lisboa, está estável, mas há outro doente internado em cuidados intensivos. O hospital tem estado a apelar aos doentes para que compareçam aos tratamentos, garantindo que estão a ser tomadas todas as medidas de segurança e contenção.

 

Regras de segurança infringidas

A origem do surto está ainda em investigação, mas o caso está a fazer soar os alarmes, dada a vulnerabilidade acrescida dos doentes internados no IPO. Até esta semana e desde o início da pandemia tinham sido registados apenas 12 casos de infeção por covid-19 em doentes, a maioria nos rastreios feitos na admissão para tratamento no hospital.

A preocupação subiu nos últimos dias, depois de um dos doentes infetados no serviço, o DJ Magazino, ter feito uma publicação sobre a sua transferência para outro hospital. Num artigo na Flash, foi publicada uma fotografia que Magazino tinha publicado no passado domingo nas redes sociais, onde surge ao lado de três auxiliares do IPO de Lisboa, sem máscara e sem distância, sem estarem a ser seguidos os procedimentos instituídos nos hospitais, onde nem os doentes nas salas de espera são autorizados a sentar-se lado a lado.

Questionado pelo SOL, o IPO de Lisboa garantiu que desde o início da pandemia sensibiliza e monitoriza a aplicação dos procedimentos instituídos e reforça a obrigação de todos profissionais do Instituto cumprirem rigorosamente as medidas de proteção, de contenção e de afastamento social durante os períodos de trabalho e nos mementos de pausa, em todos os espaços do IPO e também na vida privada, fora do hospital, comportamentos que são cumpridos pela generalidade dos profissionais. Admitindo que a situação poderá ser alvo de um inquérito interno, o IPO acrescenta que «as manifestações de afeto que refletem a cultura humanizadora dos cuidados prestados no IPO Lisboa e que são tão importantes para os nossos doentes e profissionais não podem ser admitidas no atual cenário de pandemia. Neste sentido, a fotografia em causa revela uma óbvia violação dos procedimentos de segurança instituídos no IPO Lisboa, pelo que a situação será avaliada nos termos habituais e reforçados os mecanismos de sensibilização e cumprimento dos procedimentos formalmente definidos».

 

DGS afasta rastreios a profissionais

O foco no IPO foi detetado na segunda-feira no âmbito do plano de rastreios internos do hospital aos profissionais e prestadores de serviços. Detetados dois casos positivos no serviço de hematologia, iniciou-se uma despistagem de todos os colegas e doentes com ligação ao serviço. Durante a semana, o i questionou a DGS sobre se os rastreios como os que permitiram detetar este foco serão normalizados nos hospitais, uma vez que atualmente cada unidade define os seus procedimentos. No briefing desta sexta-feira, a diretora-geral da Saúde afastou esse cenário, adiantando que as normas vão ser atualizadas mas para passarem a ser feitos testes a profissionais assintomáticos com exposição de risco à covid-19. Até aqui, os profissionais só têm indicação para fazer o teste quando manifestam sintomas, o que tem sido contestado pelas ordens. Médicos e enfermeiros já defenderam também rastreios regulares nos hospitais.