Na Idade Média predominou o teocentrismo, onde a religião ocupava o centro da vida das pessoas. No séc. XV, o Renascimento trouxe o antropocentrismo, colocando o Ser Humano como uma espécie capaz de desenvolver todo o seu potencial e de abraçar todo o conhecimento científico que o mundo tem para oferecer. Assim nasceu o polímata como um ser com conhecimento profundo em várias áreas. Leonardo da Vinci e Galileo Galilei foram duas referências.
A partir do séc. XVIII, com a revolução industrial, o conhecimento desenvolvido pelos grandes pensadores foi integrado na sociedade, dando origem a áreas científicas, tais como as engenharias tradicionais: civil, mecânica e eletrotécnica. De lá para cá, a sociedade tem promovido a especialização em vez da generalização, no pressuposto de que quanto mais profunda a especialização e o conhecimento numa área, mais facilmente se encontra um emprego.
Contudo, a quarta revolução industrial poderá estar a acentuar o axioma de que a especialização em excesso sufoca a criatividade. Cada vez mais os profissionais, e os engenheiros em particular, precisam de capacidade de inovação, de execução e de integração em diferentes áreas. O emprego é mais efémero, as tarefas são mais curtas e a vida ativa é mais longa. O poder de adaptação é essencial para lidar com tecnologias disruptivas.
Deverá então o profissional de hoje assemelhar-se aos polímatas do Renascimento? É irrealista concebermos um ser com conhecimento profundo em várias áreas científicas em simultâneo. Demorará muitos anos para que o mesmo consiga atingir a fronteira do conhecimento numa área apenas. Hoje o conhecimento é demasiado vasto para recriar os polímatas do Renascimento, mas poderemos assistir ao nascimento de uma variante – o polímata do séc. XXI, como um ser que partilha a curiosidade e a compulsividade dos antepassados. Um ser com conhecimento profundo numa área e capaz de interligar conhecimentos transversais de outras.
Assim, o profissional do séc. XXI deverá ter uma formação em forma de T, onde a barra vertical representa o conhecimento numa área específica (ex. engenharia civil) e a barra horizontal figura o conhecimento transversal noutras áreas de intervenção (ex. mecânica, eletrotécnica, ciência computacional, gestão e comunicação). Quanto maior a barra vertical, mais profundo é o conhecimento na área da engenharia civil. Por outro lado, quanto maior a barra horizontal, maior o conhecimento generalista e a habilidade de o profissional relacionar-se com outras áreas do saber, fomentando assim a criatividade individual, a inovação e o sucesso profissional.
Diretor da Licenciatura e Mestrado em Engenharia Civil
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias