O aeroporto Humberto Delgado e a final da Liga dos Campeões são os próximos riscos de Lisboa na disseminação da pandemia. Perante a situação delicada de progressão a que se assiste foram tomadas medidas, mas estas realidades são diferentes e sobre elas parece não haver vontade de prevenir.
Portugal esteve bem no confinamento, mas parece estar mal no desconfinamento. Os portugueses estiveram bem no recolhimento, mas o regresso à atividade está a revelar descuidos com consequências preocupantes. Mas não são apenas os comportamentos individuais que provocam contágios. São também os sinais equívocos e até contraditórios dos responsáveis políticos relativamente aos comportamentos na vida em sociedade e também algum relaxamento na verificação do cumprimento das regras de segurança.
Acrescem, no caso da Área Metropolitana de Lisboa, as características especificas no que respeita à intensa circulação de pessoas que se deslocam diariamente entre a residência e o trabalho, a deficiente oferta e condições dos transportes públicos e as condições habitacionais e de trabalho.
O regresso das atividades económicas e sociais e alguns episódios de comportamentos de responsáveis políticos parecem criar a sensação de que “já passou” ou, no mínimo, de que “o pior já passou”. Mas, na verdade, só passou o medo que levou a que as pessoas, mesmo antes da determinação oficial, se fechassem em casa. Como os números revelam, a situação está longe de estar melhor. Na região de Lisboa está cada dia pior. O número casos (ativos) tem aumentado significativamente e, ao contrário do momento inicial, as medidas são tomadas em reação e não por antecipação. Neste contexto, não se compreende a demora na utilização da aplicação de rastreio a instalar nos telemóveis.
A operação do aeroporto de Lisboa merece muita preocupação. Todos os dias chegam a Lisboa dezenas de voos de origens, incluindo dos Estados Unidos da América ou do Brasil – onde a situação da pandemia se encontra descontrolada. No entanto não foram salvaguardadas, antecipadamente, medidas de precaução sanitária e de rastreio suficientes nas chegadas, conforme tem sido denunciado. O aeroporto é uma porta de entrada na cidade por onde chegam milhares de pessoas por dia sem a certeza de que não possam ser focos de contágio.
A realização da fase final da liga dos campeões em Lisboa representa um risco muito elevado e quase impossível de controlar. Começa por ser insólito o facto de um responsável da UEFA antecipar a possibilidade de os jogos se realizarem com público enquanto as competições nacionais de futebol se realizam sem assistência. Mesmo supondo que fossem impostas regras de distanciamento nos estádios, parece evidente que as claques e o ambiente emotivo próprio do futebol são incompatíveis com a disciplina necessária.
Mas mesmo que os jogos se realizem sem público, parece incontornável que os adeptos virão a Lisboa para acompanhar as equipas, que se reunirão nas esplanadas para assistir aos jogos e vibrarão efusivamente. Será possível manter as necessárias regras de segurança sanitária?
Se as coisas correrem mal, então, o que poderia ser um instrumento positivo para a promoção do nosso país será um dano para a reputação nacional que terá consequências negativas para o turismo, além do que poderá colocar em causa a saúde dos portugueses.
Foram as autoridades nacionais que permitiram (e promoveram) a realização da fase final da liga dos campeões. Cabe às mesmas autoridades garantir as condições de segurança do evento.