O SNS deu a ideia de ser capaz de responder. E foi, exceto nas consultas que não fez nem marcou, nos exames que não foram pedidos, nas intervenções adiadas.
Os trabalhadores sem trabalho aceitaram um mal menor.
Os aviões pararam e dos turistas ficaram as sombras.
Sabemos todos que era impossível continuar assim..
Tivemos, mesmo, três meses para preparar o novo cenário.
Ou seja, tivemos tempo para planear, para definir os novos passos, para adequar recursos.
O desconfinamento foi sentido como uma libertação.
A mera presunção do óbvio lembrou um pequeno problema: os casos iam aumentar.
E hoje, um mês depois, verificamos como não fizemos o que devíamos.
Em 90 dias atingimos vinte mil casos. Em 30, verificámos mais outros tantos.
Um argumento fácil diria que temos muito mais ocorrências porque estamos a testar mais. Porque os casos existiam e não eram diagnosticados. Se assim fosse, o milagre português era uma floresta de enganos.
Em Lisboa e Vale do Tejo o céu cai-nos em cima da cabeça.
Primeiro porque fomos ligeiros e demos exemplos contraditórios
A precaução exigia que o novo normal fosse preparado com o maior cuidado, que se não perdessem as referências.
Que não se tratasse diferentemente o que, na essência, é igual.
A teoria geral é a de que as autoridades de saúde fixam as regras. Admita-se que sim.
Mas e quem garante o seu cumprimento?
As manifestações de natureza política não necessitam de ser autorizadas. É verdade.
Mas o seu anúncio deveria fazer intervir a exigência do exemplo e o diálogo democrático para obter a abstenção da geração do perigo.
De outro modo, as prescrições do número limite para as concentrações entre dez ou vinte pessoas, confrontadas com as de milhares soam a ridículo.
Ou, pior ainda, que não é obrigatório o teste na concentração em viagens aéreas e ficamos à mercê de quem queira ou não receber-nos ou da nossa retaliação.
Segundo porque não foi prevista a consequência do aumento inevitável das novas infeções.
Quem conhece, por exemplo, a Amadora ou Sintra e as condições de vida e de circulação ou os hábitos grupais em algumas zonas destes concelhos, percebe que o sistema até agora seguro não é suficiente.
Quando alguém é infetado, deve ficar em confinamento.
Recordo o que vi quando alguém da proteção civil, noutro concelho, no bairro da Jamaica, dizia tentar evitar que a maioria dos infetados saíssem de casa. A maioria…
Ora, para estas pessoas ou agregados ficarem confinados precisam de condições materiais de alojamento e de alimentação, pelo menos. Precisam de saber como se vão manter sem trabalho e sem recursos.
Se nada for previsto, como deveria ter sido, a consequência da difusão do vírus em sociedade é enorme.
Não é preciso, sequer, argumentar com a insuficiência dos transportes.
A questão da desnecessidade do internamento hospitalar é, as mais das vezes, o caminho para a multiplicação dos casos.
Não, não basta o que se está agora a fazer.
Não, nos fiquemos pela injustiça do mundo.
Não, não é a terceira vaga.
É o erro.