1.Fiquei chocado quando soube da vandalização da estátua do Padre António Vieira em Lisboa. Esta figura faz parte da minha Utopia quanto ao futuro de Portugal. Ela contribuiu para a formação patriótica e moral de muitos militares que vieram a integrar, em 1974, o Movimento das Forças Armadas. Como ‘revolucionário de Abril’, ‘descolonizador’ e, mais tarde, empenhado no desenvolvimento de alguns PALOP, não reconheço qualquer legitimidade aos vândalos (de qualquer ‘cor ou motivação) que, no ‘quentinho de uma pseudo-modernidade’, andam agora por aí a pretender estragar o meu país. Os autores materiais e intelectuais daquele ato já deviam estar na prisão e, no caso de serem estrangeiros, já deviam ter sido expulsos de Portugal. ‘Justificar’ atos daquela natureza como meros ‘excessos’ no quadro de uma ‘luta justa’ é, isso sim, abrir a porta a tendências fascistoides que, em todos os tempos e lugares, se serviram de ‘vândalos’ para levar os povos a aceitar propostas autoritárias.
2.Em março passado, uma portuguesa residente no Reino Unido que estava a trabalhar no ‘catering’ de um festival de corridas de cavalos, em Cheltenham, encontrou-se num breve intervalo de trabalho com uma escocesa que também lá trabalhava. Tendo perguntado à nossa compatriota de onde era, esta respondeu-lhe «de Portugal»; a escocesa, de boa fé, com simpatia, respondeu-lhe: «nunca lá fui mas já ouvi falar de Portugal, da Lituânia e desse tipo de países»… A nossa compatriota compreendeu então, com tristeza, que para uma estrangeira de boa fé, mas ignorante, Portugal era da Marca ‘desse tipo de países’!
Por isso eu recomendaria ao Sr. Presidente Marcelo (que ama Portugal) que tenha mais cautela com esses arremedos voluntaristas da ‘Marca Portugal’. Sempre gostei de futebol, principalmente de jogar; no entanto, não simpatizo com os clubes-empresas de hoje nem das suas organizações empresariais, muitas vezes conotadas com negócios de lavagem de dinheiro. Por isso, não tenho qualquer prazer que Portugal receba a Champions; não é isso que nos dignifica.
Temos, primeiro, Sr. Presidente, de ter autossuficiência alimentar e energética e de voltar a ter indústria própria, para as nossas necessidades básicas. Voltar a ter soberania (no quadro de uma intensa cooperação internacional); voltar a ter um Mundo Grande e não um ‘piquinino’ no seio de uma caduca ‘Europa’.
A Marca Portugal fez-se com Afonso Henriques, D. João I e II, com o Padre António Vieira, com o Marquês de Pombal e todos os que trabalharam a terra portuguesa com o seu suor e dignidade; com amor pelos outros…
Vá nesta direção, Sr. Presidente, e não na outra.
3.A Rússia realizou, no passado dia 24, o Desfile da Vitória, comemorativo do 75.º Aniversário da vitória contra o nazismo. Antes, Trump havia dito que os EUA e o Reino Unido haviam derrotado a Alemanha nazi, ignorando os soviéticos e o seu sacrifício de 27 milhões de pessoas. Também o Parlamento Europeu alinhou, numa sua moção, na agressividade contra a Rússia: no fundo, indicando-a como ‘a inimiga’ em futuros confrontos. Cada um ‘acredite’ no que quiser. Depois, se verá; mas que ninguém se queixe da sua própria imprudência. Eu recomendaria a leitura do livro O Naufrágio das Civilizações de Amin Maalouf, que um amigo me ofereceu no meu último aniversário. Cito: «Mas é precisamente aí que se encontra o paradoxo desolador deste século: pela primeira vez na história, temos meios para livrar a espécie humana de todos os flagelos que a assolam, para a conduzir serenamente e uma era de liberdade, de progresso sem mácula, de solidariedade planetária e de opulência partilhada; contudo, eis-nos lançados, a toda a velocidade, na via oposta [–]. Ou seja, que existe um mecanismo em movimento, que ninguém acionou voluntariamente, mas para o qual todos nós somos arrastados à força, que ameaça aniquilar as nossas civilizações».