"É efetivamente um trabalho muito importante". As palavras, relativas ao que acaba por ser, afinal, o seu dia a dia, são de Maria José Dias. "Temos que garantir que as necessidades do nosso cliente, as companhias aéreas, para estes poderem satisfazer os seus passageiros".
Com um background em engenharia alimentar e em diversas áreas de retalho alimentar, Maria José Dias hoje é Global Key Account Director no LSG Group, nome da marca LSG Lufthansa Service Holding AG, a maior fornecedora mundial de catering responsável pela entrega de cerca de 670 mil milhões de refeições servidas anualmente. E Maria José é responsável pela segurança destes menus.
Este percurso "começou há muitos anos", começa por contar ao b,i., numa conversa que aconteceu, precisamente, no Dia Internacional da Mulher na Engenharia, assinalado na passada terça-feira, dia 23 de junho. Depois de se licenciar em engenharia alimentar pelo Instituto Superior de Agronomia, a sua primeira aventura profissional no setor surgiria de um estágio derivado da sua licenciatura. "Quando acabei o curso fiz o meu estágio na Makro Portugal, que pertence ao Grupo da Metro [conglomerado alemão de comércio retalhista] no departamento de qualidade. Finalizei aí a tese do curso de engenharia alimentar e convidaram-me para continuar a trabalhar lá", recorda.
Nesta empresa desempenhou várias funções. Mas anos mais tarde, mais experiente, começou a tirar o mestrado em Doenças Metabólicas e Comportamentos Alimentares, na faculdade de Medicina de Lisboa, que, apesar de não ter concluído, lhe permitiu ter uma visão mais alargada do setor.
"[Entrei neste mestrado] porque queria entender um pouco para onde é que os mercados se estavam a desenvolver, como é que a alimentação podia influenciar a saúde das pessoas, como é que economicamente iríamos entender para onde é que estávamos a ir e como é que isso poderia ajudar a tomar decisões no futuro", explica.
Contudo, tudo mudou na sua vida quando recebeu um convite inesperado da Makro Portugal. "Recebi um convite para ir trabalhar para Espanha, através da Makro Portugal, e desenvolver um projeto que se chamava Costumer Lab Catering Management, que tinha o intuito de ser implementado em Portugal. Ou seja, eu ia aprender a desenvolver esse projeto que era a gestão de categorias, porque eu entretanto saí do departamento de qualidade e ingressei na área comercial. E fui aprender esse processo para o implementar em Portugal".
Mas este regresso acabou por nunca se materializar. "Acabei por não regressar porque a equipa internacional gostou do meu trabalho. O conhecimento que eu tinha sobre os alimentos acabou por ajudar no desenvolvimento das categorias alimentares, das quais eu era responsável. Fiquei um ano em Madrid, a aprender o projeto, ingressei ainda em Madrid na equipa internacional, depois estive cinco meses em Düsseldorf, na sede do grupo Metro. Implementei aqui a primeira de três fases do projeto e depois segui para Xangai, onde estive uma ano e acabei por implementar a fase dois e três. Quando acabámos o projeto, estive um ano e meio em Istambul, depois seis meses em Paris".
Foi na cidade francesa que surgiu o convite para trabalhar na empresa onde se encontra atualmente. "Entro neste projeto pelo trabalho que tinha feito na Metro de desenvolvimento de categorias alimentares. Abriram uma central de compras no Luxemburgo, para a qual eu era responsável e aqui, novamente com a engenharia a dar cartas, onde muitos detalhes técnicos me foram requeridos e solicitados para que pudesse resolver vários problemas que enfrentámos".
No último ano, mudou de área de trabalho, passou para a direção de vendas, em Frankfurt, e atualmente trabalha como global key account, onde é a responsável por garantir alimentos nutritivos, seguros e de qualidade. Quando questionada sobre se o seu trabalho, dada a complexidade e responsabilidade, tinha a visibilidade e valorização devidas, Maria José Das explicou o porquê de tal não acontecer. "Os caterings da aviação sempre ficaram no background, quem dá a cara é a companhia perante os seus passageiros", começa por explicar. "Quando os passageiros recebem a comida é um catering que está a fazer aquilo que a companhia deseja servir aos seus passageiros, mas a confeção, a segurança alimentar, tudo aquilo que vai para os aviões, neste caso, é a engenharia alimentar a falar mais alto e a garantir a segurança dos passageiros".
Nos últimos tempos, muita coisa mudou no seu trabalho devido à pandemia gerada pelo covid-19. "Os aviões pararam, os menus pararam, as cozinhas pararam", enumera. Portanto, nos últimos tempos, a sua tarefa foi perceber como é que deveria adaptar os menus para este "novo normal". "Muita coisa está a mudar e estamos a avançar para uma nova era que nos vai trazer novas formas de compras, de alimentos e de servir alimentos aos passageiros. Esta nova era e fase da aviação irá alterar a forma como os alimentos são servidos, expostos e levados até ao cliente. A nossa tarefa é garantir a segurança de todos os passageiros, o que acho muito emocionante e que considero ser uma grande paixão".