Na grande Lisboa, os transportes têm andado cheios em determinadas horas e há queixas de utentes, mas a ministra da Saúde garante que não existe nenhuma infeção associada a essa realidade, desvalorizando assim a preocupação manifestada pela oposição e por diversos responsáveis, como o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras – que escreveu um artigo de opinião no i de ontem, no qual ameaçava parar os transportes públicos que circulassem entre Sintra e Oeiras, colocando os utentes em transportes da autarquia caso a oferta de transportes não voltasse a 100%.
“Os transportes públicos não estão associados a nenhum dos novos casos de infeção”, disse ontem Marta Temido na comissão parlamentar da Saúde, após ser questionada pelos partidos da oposição. Sugerindo algumas soluções, como o fim dos impostos para os táxis e o fim do pagamento de parquímetros, o deputado do PSD Ricardo Baptista Leite deixou um aviso: “Não basta dizer que não é possível manter o distanciamento social nos transportes públicos”. E o aviso não era só para o Governo. O deputado acrescentou que dos autarcas não se deveria esperar apenas críticas à ministra, mas também soluções.
Por entre a discussão sobre se a sobrelotação dos transportes é ou não um problema nesta área do país, a Área Metropolitana de Lisboa (AML) anunciou que “a oferta de transporte público rodoviário de passageiros na região metropolitana de Lisboa foi reforçada para mais de 90%, relativamente à existente no período pré-pandémico”. O reforço começou ontem (ver texto ao lado) e traduz-se, “em termos concretos, num crescimento de cerca de 4.000 circulações por dia, face à oferta registada em junho”. Em comunicado a AML esclarece que a oferta “configura mais cerca de 57.000 quilómetros percorridos diariamente pelos transportes rodoviários na área metropolitana de Lisboa”.
É, no entanto, preciso ter em conta que apesar do aumento da oferta, os transportes têm agora menos lugares disponíveis do que no ano passado. No seu comunicado, a AML diz estar em conjunto com os municípios e os operadores “a monitorizar os serviços oferecidos, para procederem, em caso de necessidade, a reajustes na oferta”.
Carreiras reage a resposta de Marta Temido
Ao i, o presidente da Câmara de Cascais disse ontem que a ministra da Saúde tem mais informações do que ele sobre a perigosidade do que se passa nos transportes públicos, pelo que toma como bons os esclarecimentos e aguarda que a tutela se responsabilize por eles no futuro.
“Se a senhora ministra diz uma coisa dessas, tendo mais informação do que eu e tendo mais conhecimento técnico do que eu, quero acreditar que a senhora ministra também assume a responsabilidade do que está a dizer”, disse Carlos Carreiras ao i, acrescentando: “Só fico a estranhar uma coisa: é que se isso é assim, porque é que se coloca a regra de um terço de redução da capacidade dos transportes? Por outro lado, quero acreditar que isto não é mais uma história do tempo em que não era preciso usar máscaras, pela simples razão de que não havia máscaras”.
E rematou, afirmando: “Mas não tenho nenhuma razão para desconfiar da senhora ministra”.
Basílio Horta contra Ameaça de Carlos Carreiras
Defendendo que tudo o que for decidido no âmbito do combate à pandemia na AML terá de ter o compromisso dos vários municípios envolvidos, Basílio Horta, presidente da Câmara de Sintra, explicou ontem ao i que, apesar de entender a boa vontade de Carlos Carreiras, não concorda com ações descoordenadas.
“Não vamos solucionar o problema dos transportes com medidas individuais sem a coordenação da Área Metropolitana de Lisboa”, atirou o autarca, acrescentando: “Percebo a boa vontade do presidente Carlos Carreiras, mas a questão tem que ser encarada de forma abrangente porque é uma extensa zona urbana que está em causa, uma região muito populosa e muito concentrada, onde se atravessa a rua e estamos noutro concelho”.
Para Basílio Horta há questões mais urgentes que têm de ser tratadas: “Considero que mais grave que o problema de transportes é o da identificação das cadeias de transmissão. É necessário reforçar meios nesta área, em articulação entre as autoridades de saúde e as autarquias locais, que permita tomar medidas e acionar meios quando não há tempo a perder”.
O i pediu uma reação a Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, e a Isaltino Morais, presidente da Câmara de Oeiras, que não responderam até à hora de fecho desta edição. Também o autarca de Loures, Bernardino Soares, que esteve ontem em reunião de câmara, não enviou qualquer reação em tempo útil.
Pedro Nuno Santos também desvalorizou situação
O ministro das Infraestruturas afirmou ontem que é “preciso trabalhar com a realidade dos factos”. Pedro Nuno Santos reagia assim à sobrelotação dos transportes em determinados horários, afirmando que “neste momento, [há] uma lotação na maioria esmagadora dos […] comboios nas horas de ponta na AML abaixo dos 50%, ou mesmos dos 30%”.
O governante disse ainda que, dos mais de 660 comboios que circulam na AML por dia, apenas “meia dúzia está a rondar os dois terços de lotação”. Taxas que, diz, são inferiores às que existiam no período pré-covid.
No Parlamento o governante já havia deixado claro que não é possível aumentar a oferta de comboios, que já está nos 100%, adiantando que outras soluções, como autocarros de substituição para aliviar as carruagens, não seriam plausíveis. “Seriam necessários 40 autocarros para substituir um comboio”.
Reforço da oferta, segundo a AML • Barraqueiro (Boa Viagem e Mafrense), que serve os concelhos de Vila Franca de Xira, Mafra, Sintra e Loures, está a disponibilizar uma oferta idêntica à registada no período homólogo em 2019, com reforços substanciais nas ligações a Lisboa. • JJ Santo António, Isidoro Duarte e Henrique Leonardo Mota, que servem os concelhos de Loures e Mafra, estão desde dia 29 a praticar os horários não escolares, com uma oferta que, no caso da JJ Santo António, chega aos 100%. • Rodoviária de Lisboa, que serve Loures, Odivelas e a parte de Vila Franca de Xira e Amadora, tem uma oferta média acima dos 90%. • Scotturb, que serve o concelho de Sintra e as carreiras intermunicipais para Cascais e Oeiras, também oferece, desde ontem, 100% de reforço de oferta de rede, com especial atenção para os serviços que registavam maior procura. • Vimeca/Lisboa Transportes, que serve os concelhos de Oeiras, Amadora e parte de Sintra, está a assegurar 100% da oferta. • TST – Transportes Sul do Tejo, que servem a Península de Setúbal, estão, desde ontem, a proceder a um reforço global do serviço de transportes. Foram retomadas as ligações a Lisboa que se encontravam suspensas.• Barraqueiro (Boa Viagem e Mafrense), que serve os concelhos de Vila Franca de Xira, Mafra, Sintra e Loures, está a disponibilizar uma oferta idêntica à registada no período homólogo em 2019, com reforços substanciais nas ligações a Lisboa.
• JJ Santo António, Isidoro Duarte e Henrique Leonardo Mota, que servem os concelhos de Loures e Mafra, estão desde dia 29 a praticar os horários não escolares, com uma oferta que, no caso da JJ Santo António, chega aos 100%.
• Rodoviária de Lisboa, que serve Loures, Odivelas e a parte de Vila Franca de Xira e Amadora, tem uma oferta média acima dos 90%.
• Scotturb, que serve o concelho de Sintra e as carreiras intermunicipais para Cascais e Oeiras, também oferece, desde ontem, 100% de reforço de oferta de rede, com especial atenção para os serviços que registavam maior procura.
• Vimeca/Lisboa Transportes, que serve os concelhos de Oeiras, Amadora e parte de Sintra, está a assegurar 100% da oferta.
• TST – Transportes Sul do Tejo, que servem a Península de Setúbal, estão, desde ontem, a proceder a um reforço global do serviço de transportes. Foram retomadas as ligações a Lisboa que se encontravam suspensas.