Holanda. Uma luz vermelha ao fundo do túnel

O Governo holandês decidiu antecipar a data de reabertura da indústria do sexo de 1 de setembro para 1 de julho.

Nunca a There is a Light That Never Goes Out dos Smiths, onde Morrissey, o vocalista, canta sobre uma “luz que nunca se apaga”, fez tanto sentido.

O “red light district”, bairro da luz vermelha, em Amesterdão, na Holanda, mais conhecido como uma zona de prostituição legalizada, decorado com cinemas eróticos, sex shops, bares de striptease, o museu do sexo e montras com dançarinas, volta a acender as luzes e a retomar as atividades depois de ter sido encerrado em março devido à pandemia.

A decisão do Governo de antecipar a data de reabertura da indústria do sexo de 1 de setembro para 1 de julho aconteceu depois de uma campanha feita pela Red Light United, um sindicato que representa as prostitutas, para que estas pudessem regressar ao trabalho o mais rápido possível, uma vez que as dançarinas eróticas e as prostitutas não tiveram acesso a apoio estatal durante o período de confinamento, o que criou dificuldades financeiras a estas mulheres obrigando-as a recorrer a trabalho ilegal, o que as expôs a um risco maior.

Esta decisão foi bem recebida pelas trabalhadoras, Felicia Anna, uma mulher de 34 anos, profissional do sexo e líder do Red Light United, referiu que, apesar das preocupações, é bom estar de volta ao trabalho. “Durante a quarentena, muitos profissionais do sexo ficaram com sérios problemas financeiros e, por isso, estamos muito felizes por poder voltar a trabalhar”, disse à AFP.

Moira Mona, uma prostituta de 29 anos que atua num clube de sadomasoquismo, revelou à Reuters que está “muito ansiosa por voltar a trabalhar”. “O dinheiro extra vai dar jeito, portanto nesse sentido tenho esperança que seja um dia atarefado… Ainda que não espere que seja tão atarefado quanto antes da crise do coronavírus”.

Durante o confinamento obrigatório, Mona conseguiu ter algum lucro fazendo espetáculos online, mas garante que se as medidas do Governo se mantivessem durante mais tempo teria gasto todas as suas poupanças.

Apesar de haver preocupações com a afluência de clientes (a Holanda tem algumas restrições de voos, o que se traduz em menos turistas), Felicia Anna disse que nenhuma das suas colegas tem apresentado queixas.

“Estou com a agenda completamente cheia”, confessou Foxxy ao The Guardian, pseudónimo artístico de outra profissional do sexo e ativista no Prostitution Information Center, em Amesterdão.

 

Uma nova realidade

A indústria compilou uma lista de recomendações que inclui posições sexuais a evitar. Contudo, mesmo com estas novas orientações, Debbie Mensink, uma conselheira de saúde pública em Amesterdão, relembra que as prostitutas estarão, em comparação a outros profissionais, mais expostas aos perigos da covid-19. “As trabalhadoras do sexo já correm um risco elevado de saúde devido ao seu ramo de trabalho, dada a proximidade dos clientes”.

Foxxy explicou os novos cuidados que tem que ter no seu trabalho. “Antes de marcar qualquer sessão tenho que confirmar se o cliente se sente bem e se ele ou as pessoas com quem partilha casa não apresentam nenhum sintoma”.

Em relação ao encontro, existem diversos cuidados a ter como “a desinfeção e limpeza das mãos, a limpeza de lençóis depois de cada cliente”, explica Foxxy. “Estas são as medidas básicas. Mas não precisamos de usar máscara durante os encontros, graças a Deus”. E acrescenta que a maioria das trabalhadoras evita o contacto cara a cara com os clientes, “por isso, nada de beijos”, avisa.

“Recomendamos que não se aproximem da cara, de forma a não inalarem a respiração quente um do outro. Também recomendamos que não se beijem, uma vez que a saliva transporta o vírus”, aconselha Debbie Mensink.

Mona disse que, de forma a aderir ao protocolo de segurança, acrescentou novos itens à sua coleção: uma máscara de couro com pregos de metal que cobre a cara, luvas pretas e máscaras cirúrgicas. “Não recebo subsídio de desemprego se ficar doente. Portanto, se alguém aparecer e começar a tossir ou a espirrar no meu corredor, vou dizer ‘Pode voltar noutra altura?’, porque se eu ficar doente durante uma semana, significa que não há rendimento durante esse período”.

Apesar de a pandemia ainda estar ativa na Holanda, o número de novas infeções e mortes pelo coronavírus caiu rapidamente nas últimas semanas, por isso, o Governo começa a flexibilizar algumas restrições. No dia 1 de julho, as missas passaram a ser celebradas na presença de um número maior de fiéis do que os 100 originalmente permitidos.

Desde março, a Holanda regista mais de 50.000 infetados e mais de 6000 mortos.