O aumento de casos de covid-19 na região de Lisboa é grave e não está controlada. Importa que sejam tomadas medidas antes que a situação tome proporções que coloquem em causa toda a comunidade com consequências ainda mais graves. De ‘milagre português’ rapidamente poderemos passar a ser o ‘inferno português’. O problema é do país, mas da região de Lisboa, em particular.
O Governo decretou um conjunto de restrições para as zonas críticas, mas as medidas tomadas são frágeis por dependerem do comportamento das pessoas e de condicionantes que escapam às iniciativas tomadas, tais como a incapacidade de resposta adequada dos transportes públicos ou as deficientes condições habitacionais em muitos locais.
Foi há pouco tempo, mas parecem já longe os tempos em que alguns protagonistas políticos deram sinais equívocos sobre o regresso à ‘normalidade’. Com a situação que se verifica hoje na região de Lisboa, certamente que haverá algum arrependimento.
Durante o mês de junho, enquanto no país o aumento de casos foi na ordem dos 24%, na região de Lisboa aumentaram 42%. Se em abril o aumento casos na região de Lisboa correspondiam a pouco mais de 20% do total de casos no país, neste momento correspondem a cerca de 80%.
O aumento de novos casos concentra-se na zona norte da Área Metropolitana de Lisboa e esta evolução determinou a declaração da situação de calamidade em 19 freguesias de 5 concelhos onde a progressão é particularmente acentuada.
Apesar de tudo, algumas coisas têm corrido bem. Desde logo a capacidade de resposta dos serviços de saúde (mesmo que com sacrifício de doentes não covid, como se tornou evidente com o recente anúncio de mais de um milhão de consultas não realizadas e mais de 50.000 operações adiadas). Mas há muitas questões que não têm corrido bem.
A informação disponibilizada sobre os casos é escassa, demorada e não é partilhada com todos os agentes envolvidos no combate à pandemia, a começar pelos autarcas que têm um papel decisivo. Verifica-se desleixo ou incumprimento de recomendações e a fiscalização é quase inexistente. Algumas medidas de controlo e rastreio não são tomadas ou demoram a ser implementadas, como é o caso das chegadas nos aeroportos. Os transportes públicos são insuficientes e não foram tomadas medidas para atenuar o excesso de procura nas horas de ponta. Também a implementação da aplicação de rastreio nos telefones – apontada como muito eficaz – está atrasada.
Nas atuais condições, enquanto não houver vacina e tratamento eficaz, a situação terá tendência a agravar-se. O vírus permanecerá ativo durante muito tempo. Neste tempo, ou são corrigidos os erros e tomadas medidas eficazes, ou a situação poderá entrar em descontrolo.
Importa tomar medidas adequadas nas zonas mais problemáticas. Há boas práticas que devem ser replicadas: testes gratuitos generalizados à população (como a Câmara de Cascais implementou), controlo sanitário nas áreas críticas, por entidades oficiais, reforço dos transportes públicos (mesmo recorrendo ao aluguer de autocarros suplementares) e melhores campanhas de sensibilização.
Mas há medidas generalizadas que devem ser concretizadas com urgência: partilha de informação com celeridade com as autarquias, implementação e promoção da aplicação de rastreio – não se compreende que não esteja já disponível, fiscalização sistemática do cumprimento de regras e normas de segurança sanitária. E por fim, nunca é demais recordar, uma atitude responsável das pessoas que têm de assumir que não podem conviver socialmente como antes do vírus e até que haja uma vacina.